quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Sobreviventes da violência no trânsito alertam para o perigo nas estradas



ZH publica o apelo de pessoas expostas à carnificina das estradas, como Noé Rodrigues, que em dezembro passado despencou de ponte

As paredes de madeira do número 225 da Rua Maria Neci dos Santos, bairro Restinga, amanheceram decoradas com balões coloridos na última quarta-feira. À mesa do café, a família, ampliada com parentes e amigos, chapeuzinho de papelão na cabeça, esperavam o despertar de Noé Mateus Rodrigues – um sobrevivente da carnificina diária do trânsito gaúcho.

A celebração surpresa comemorava um ano do renascimento de Rodrigues, como ele mesmo define o dia 16 de dezembro de 2008, data em que foi parido do ventre retorcido de uma picape Strada, às margens do Rio Jacuí, no km 103 da BR-290. Em um ano, o empreiteiro sofreu uma transformação radical.

Com um parafuso de cinco centímetros entre a segunda e a terceira vértebra, Rodrigues mantém apenas 30% dos movimentos do pescoço. As limitações o impedem de tocar a empresa especializada em terraplenagem, o que o torna dependente da mulher, Angela Maria Leite de Souza, 39 anos, para o sustento do lar. Ele ainda corre o risco de ficar paralítico.

– A vida mudou muito – sintetiza Rodrigues, 49 anos.

Rodrigues foi arremessado por um caminhão para fora da ponte sobre o Rio Jacuí. Sobreviveu à queda de uma altura estimada em 20 metros. Entre um café e outro, no pátio sem calçamento de sua residência, Rodrigues se diz traumatizado.

– A primeira pessoa que se aproximou de mim disse: “todos que caíram de cima desta ponte morreram”. Mas eu estou vivo, quero sobreviver – respondeu Rodrigues.

O fandangueiro animado, o operador de retroescavadeira destemido, o mecânico capaz de desmontar e montar o motor de um trator, fazem parte do passado. Rodrigues, protegido por um colar ortopédico, movimenta-se com insegurança.

– Um esforço a mais pode me deixar numa cadeira de rodas – lamenta o homem que luta para recuperar as finanças da família.

O empreiteiro, filho de mãe índia e pai espanhol, suspeita que motoristas de caminhão não têm formação suficiente para rodar:

– Meu filho acabou de tirar carteira para dirigir caminhões do tamanho daquele que bateu em mim. Só tem um detalhe: ele não dirigiu caminhão na autoescola. Eu sei que o meu filho pode dirigir porque a vida inteira ele passou comigo lidando com caminhão, mas e as outras pessoas?

Para quem vai viajar neste feriado, Rodrigues, que jamais havia se acidentado, recomenda cuidado com os demais motoristas:

– Nunca fique ao lado de um caminhão numa ponte. Não se sabe o que pode acontecer.

No dia 3, a família comemora o aniversário biológico de Rodrigues, que completará meio século de vida.

-Vamos fazer mais uma festa – avisa Angela Maria.

O empreiteiro faz um pedido.

– Coloquem no ar o vídeo do acidente. Talvez o pessoal tenha mais cuidado depois de olhar como ficou o meu carro.

O vídeo sugerido por Rodrigues, entregue à família por populares, pode ser visto em zerohora.com.

Um comentário:

ONG ALERTA disse...

O trânsito mata mais do que é informado a população então vamos exigir dos órgõas responsáveis mais eficiencia em seu trabalho de prevenção de acidnetes, todos devem fazer sua parte.
Lisette Feijo