Balanço parcial do Detran revela que, em 2009, brasilienses até 19 anos representaram 18% do total de vítimas de acidentes nas vias - é o maior percentual desde 2000
Um número cada vez maior de crianças e jovens com até 19 anos está perdendo a vida em acidentes de trânsito no Distrito Federal. Dados parciais de janeiro a novembro de 2009 revelam dois recordes lamentáveis. A participação dessa parcela da população no total de vítimas praticamente dobrou em relação a 2008 e é a maior dos últimos oito anos. Em números absolutos, 66 pessoas nessa faixa etária morreram em 11 meses. É mais do que todo o ano de 2008, quando o Departamento de Trânsito (Detran) contabilizou 43 mortes.
Os números parciais divulgados pelo Detran revelam que, de janeiro a novembro do último ano, das 365 vítimas de todas as idades, 18% tinham até 19 anos. Em 2008, o percentual foi de 9,4%. Percentual tão alto só foi registrado em 2000, quando 18,75% das 432 vítimas estavam nessa faixa etária quando perderam a vida. Entre as vítimas de 2009 está a pequena Yasmin Alice Martins, 5 anos, atropelada por Ítalo Pinheiro de Almeida, 26, que fugiu sem prestar socorro e se apresentou à polícia dois dias depois.
O acidente que tirou a vida de Yasmin ocorreu em 23 de maio, em Taguatinga Norte. A família da garotinha ficou inconsolável e luta por justiça desde então. Em dezembro, promoveu uma passeata pedindo punição ao motorista. Para a avó da garota, a dona de casa Cleusa Martins, 49 anos, além de as crianças serem mais vulneráveis, a impunidade contribui para que as tragédias se repitam. “Como Yasmin poderia imaginar que corria risco? Se as pessoas não se conscientizarem de que serão responsabilizadas, não vão parar de arriscar a própria vida e as dos outros”, lamentou Cleusa.
O Correio fez a média mensal de vítimas. Ao longo do ano passado (com dados até novembro), morreram em média seis pessoas por mês — praticamente metade dos casos registrados em 2008 (3,5). Para Paulo César Marques, professor de engenharia de tráfego da Universidade de Brasília (UnB), o aumento das estatísticas deve servir de alerta para que as autoridades de trânsito estudem as causas. “É preciso entender o tipo de acidente ocorrido e o envolvimento desse grupo de vítimas para que os setores de educação e segurança do trânsito atuem de forma eficiente na redução dos riscos”, apontou.
O diretor-geral do Detran-DF, coronel Cezar Caldas, informou, por meio da assessoria de imprensa, que não poderia atender a reportagem nesta semana. Ele também não autorizou que outro profissional do órgão comentasse as possíveis causas para o aumento das mortes entre crianças e jovens. Em outubro do ano passado, o Correio divulgou matéria alertando sobre o aumento no número de vítimas jovens. Na época, Caldas disse que o órgão investigaria as causas e promoveria investimentos em educação.
Desrespeito trágico
O estudante Pedro Gonçalves da Costa, 16 anos, também está entre os jovens mortos no trânsito em 2009. Em 6 de junho, foi atropelado no fim da W3 Sul por um carro que, segundo a polícia, avançou o sinal vermelho. O motorista, Bruno Moraes Dantas, 21 anos, teria bebido antes de pegar a direção(1). Amanhã, testemunhas serão ouvidas sobre o acidente em uma audiência no Tribunal do Júri de Brasília.
O pai de Pedro, Franklin Corrêa da Costa, 49 anos, acredita que uma combinação de vários fatores leva à triste estatística de jovens mortos nas vias do DF. “Falta educação no trânsito. O motorista quer levar vantagem e esquece de respeitar o pedestre e o ciclista. Falta consciência de que direção irresponsável é um crime brutal e pode tirar a vida de alguém que mal começou a viver”, lamentou. Logo após o atropelamento, os parentes de Pedro escreveram com tinta spray o nome do garoto e o do condutor acusado de atropelá-lo.
Professor de psicologia no trânsito na UnB, Hartmut Günther acredita que o incremento das estatísticas tenham relação com a redução da civilidade e respeito ao próximo. “Se por um lado, os jovens tendem a se arriscar mais, por outro o motorista, sabendo disso, deve ser mais cauteloso”, avaliou. Günther destacou ainda que o aumento da frota é outro fator a ser considerado.
1 - Lei seca
Em vigor desde 20 de junho de 2008, a Lei Federal nº 11.705, a lei seca, proíbe o condutor de dirigir sob influência de qualquer quantidade de álcool. Quem ignora a legislação é punido com a suspensão do direito de dirigir por um ano e paga multa de R$ 957. Se o bafômetro acusar índice igual ou superior a 0,3 miligrama por litro de ar expelido dos pulmões, o condutor ainda responde a processo criminal por dirigir alcoolizado.
Memória
2009
5 de novembro
Gabriela de Sousa, 7 anos, morreu atropelada na DF-290, na altura do km 18, no Gama. A menina voltava para casa, no Núcleo Rural Ponte Alta, quando, após descer do ônibus escolar com os dois irmãos e tentar atravessar a pista, foi atingida por um carro.
17 de setembro
Igor Júnior de Almeida Campos, 10 anos, andava de bicicleta pela Rua Água de Coco, na Quadra 1 do Arapoanga. Quando o garoto virou a esquina para cruzar a via principal, foi atingido por um micro-ônibus e morreu na hora.
5 de setembro
Janderson Vieira de Sá, 11 anos, estava acompanhado do pai quando foi atingido por um caminhão desgovernado. Os dois seguiam em bicicletas diferentes pelas margens da rodovia DF-180.
15 de julho
Darel Salleck, 19 anos, morreu após cair de uma moto e ser atropelado por um ônibus. O acidente ocorreu na Estrada Parque Taguatinga (EPTG).
Correio Braziliense