Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado esta semana, mostra que 2.077 paranaenses morreram no trânsito em 2008.
A morte de pelo menos 2.077 paranaenses poderia ter sido evitada no ano passado, não fossem a violência e a desatenção no trânsito. Todos foram vítimas de um crime tipificado como homicídio culposo de trânsito, ou seja, acidentes com vítimas em que não houve a intenção de matar. O número coloca o Paraná como o terceiro estado brasileiro com a maior quantidade de óbitos nessa área. Em primeiro e segundo lugar ficaram, respectivamente, São Paulo e Rio de Janeiro. Os gaúchos ocupam a quarta posição. Os dados, de 2008, foram divulgados esta semana pelo anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Das 27 unidades da federação, 24 participaram da pesquisa – apenas Acre, Rio Grande do Norte e Sergipe não passaram os dados de trânsito ao Fórum.
Na Delegacia de Trânsito de Curitiba, a maioria dos inquéritos se refere a casos de homicídios culposos. “São pessoas que morreram por causa de velocidade inadequada, falta de atenção do motorista e influência alcoólica do condutor”, afirma o delegado Armando Braga de Moares Neto.
As 2.077 mortes no Paraná foram mapeadas da seguinte maneira: 963 aconteceram em rodovias estaduais, 289 nas federais, 360 nas ruas de Curitiba e as outras 465 foram no litoral, região metropolitana e nas cidades do interior do estado. Segundo o tenente Sheldon Vortolin, da Polícia Rodoviária Estadual (PRE), o maior número de homicídios foi nas rodovias estaduais porque a PRE cuidava, em 2008, de 15 mil quilômetros de estradas estaduais e 3 mil quilômetros de federais. “Além disso, a quantidade de mortes nas rodovias é maior porque, quando há um acidente, ele normalmente é de grandes proporções e quase sempre morre alguém. O pior é que sabemos que 90% dos casos poderiam ter sido evitados”, diz.
Vortolin lembra ainda que as rodovias com melhor condição de tráfego são as que têm mais acidentes. “Os motoristas correm mais em estradas bem conservadas, pois existe uma condição de segurança. A questão é que, se ocorre um acidente, a gravidade também será maior.” Além do excesso de velocidade, o que mais mata nas rodovias é a imprudência (ultrapassagens indevidas) e outras infrações, como a falta de uso do cinto de segurança.
“Cidade grande”
São Paulo é o estado que tem a maior frota de carros: 18,8 milhões. Em proporção ao número de óbitos, ainda é menos violento que o Paraná, o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, três estados que têm, em média, 4 milhões de veículos e um número de mortes que oscila entre 2.790 e 1.169 (veja nesta página). Para os especialistas, os estados com frota maior tendem a ter a “síndrome de cidade grande”.
“Sem dúvida, se você tem um número maior de veículos circulando, vai ter mais acidentes. O que falta é as pessoas perceberem que o carro automotor não é um objeto lúdico, de lazer. Ele exige responsabilidade e preparo para o seu uso”, afirma o delegado Moraes Neto.
Curitiba, com 1,1 milhão de carros, é um exemplo do que significa ter uma frota grande de veículos. De 2006 para cá, os motoristas começaram a enfrentar trânsito lento e, em alguns momentos, congestionado. Perceberam que a agenda, antes cumprida facilmente, teve de ser repensada. “As grandes cidades têm em comum o fato de as pessoas estarem sempre correndo contra o tempo. O problema é que elas também entram aceleradas no carro e é isso que desencadeia uma série de acidentes”, explica a psicóloga Neuza Corassa, autora do livro Seu carro: sua casa sobre rodas. Ela analisou o perfil dos motoristas de São Paulo e de Curitiba e disse que os curitibanos, neste ano, começaram a se adequar à realidade que já era vivida pelos paulistanos. “Tem de aprender a dizer não para certas coisas e diminuir os compromissos. Os curitibanos começaram a buzinar menos, o que demonstra que eles estão se adaptando ao comportamento de cidade grande. Todos precisam sair de casa sabendo que vão passar por uma situação de trânsito que antigamente não existia.”
(Gazeta do Povo)
(Gazeta do Povo)