Uma mulher de 33 anos morreu afogada na Baía de Vitória, depois que o veículo em que estava derrapou na Avenida Beira-Mar, no Centro de Vitória, e caiu no mar. O acidente foi o 18º do ano na região somente neste ano. Em todo o ano passado, foram 11 acidentes.
A zeladora Linda Rita Alves estava no banco do carona da Toyota Hilux de cor branca, modelo antigo, dirigida pelo marido dela, o auxiliar em mecânica Cleudir Marques Santana de Brito, 35. Era por volta das 6h20, quando o condutor teria perdido o controle da direção, ao passar por uma poça d’água. Chovia na hora do acidente.
O veículo rodou na pista, sentido Centro - Bento Ferreira, invadiu a calçada e destruiu a mureta de proteção. Linda ficou presa ao cinto de segurança e afundou com a caminhonete, que ficou a 14 metros de profundidade. Cleudir conseguiu se salvar e permaneceu no mar por 20 minutos, tentando salvar a mulher. Infelizmente, o esforço foi em vão. Apesar de não ter ficado ferido, o motorista foi levado ao Hospital São Lucas, perto dali, em estado de choque.
O corpo de Linda foi localizado às 11h por uma equipe de mergulhadores do Corpo de Bombeiros. Para os trabalhos de resgate, a área em que ocorreu o acidente teve que ser parcialmente interditada, e o trânsito ficou lento no Centro durante a manhã.
Já a caminhonete só foi retirada quase nove horas depois do acidente, e foram necessários dois caminhões – um deles, um guincho – para içar o carro.
Família
De acordo com a irmã de Linda Rita, Ediana Alves, a caminhonete pertencia à empresa onde Cleudir trabalha. Ela informou que o casal morava em Rio Marinho, Cariacica, e tinha dois filhos, sendo um garoto e uma menina de 2 anos. O cunhado iria deixar sua irmã no trabalho num condomínio em Santa Lúcia, Vitória, e depois seguiria para o emprego dele, também na Capital. No entanto, no local também surgiu a informação de que Cleudir teria pegado o carro para levar Linda ao médico.
“Carro não estava em alta velocidade”
Dois gesseiros que passavam de moto pela Avenida Beira-Mar, no Centro de Vitória, no momento do acidente que culminou com a queda da Hilux dentro do mar, contaram que o motorista Cleudir de Brito não trafegava pela pista em alta velocidade. Valdecir Ferreira Vieira e Ronaldo Marcelino contaram que o motorista perdeu o controle devido à pista molhada. Eles pararam a motocicleta em que estavam e ajudaram no socorro. Além dessas testemunhas, outro homem, ao ver a cena, parou o carro e entrou no mar para tentar salvar a zeladora. O secretário municipal de Trânsito, Fábio Damasceno, esteve no local e informou que a sinalização da via estava correta. O secretário não soube precisar se a velocidade do motorista era alta e revelou que não havia marcas de freada na pista.
Resgate deixa população indignada
Parentes, amigos e a população que acompanhava o resgate do corpo de Linda Rita Alves, 33 anos, ficaram indignados com o fato de o corpo ter sido puxado por uma corda no mar e não ter sido colocado na lancha dos Bombeiros ou da Capitania. “Ela não é objeto e não é animal”, gritavam muitas pessoas que acompanhavam o resgate.
Uma lancha da Capitania dos Portos, com a ajuda de dois mergulhadores do Corpo de Bombeiros, puxou o corpo de Linda por cerca de 400m. Depois, o corpo foi retirado na rampa de embarque e desembarque do Clube do Saldanha.
O sargento do Corpo de Bombeiros que fazia o resgate, Carlos Alberto Mendes, informou que o procedimento realizado foi o padrão e acrescentou que não poderia ter retirado o corpo no local do acidente porque iria expor demais a vítima, visto que havia muitos curiosos tirando fotos. Ele explicou a situação pessoalmente aos familiares da mulher que morreu.
A equipe do Corpo de Bombeiros permaneceu o tempo todo protegendo o corpo até o transporte feito pelo Departamento Médico Legal (DML). O tenente-coronel Samuel Rodrigues reafirmou que o procedimento adotado pela equipe foi o correto, mas adiantou que a corporação vai avaliar a possibilidade de mudar a forma de realizar esse tipo de resgate.
Ediana Alves Marques, irmã da zeladora que morreu afogada, também assistiu ao trabalho de resgate. Ela foi ao local após ficar sabendo do acidente por meio de uma reportagem da TV Gazeta. Ao ver o corpo sendo retirado, Ediana chorou muito e teve que ser amparada.
Jornalista cai ao apoiar-se em mureta
O jornalista da Redação Multimídia da Rede Gazeta Nuno Moraes caiu no mar quando fazia a cobertura do acidente na Baía de Vitória, na manhã de ontem, Centro de Vitória. Nuno escorou-se na mureta de proteção, corroída e em péssimo estado de conservação, na Avenida Beira-Mar, e a estrutura que deveria servir como proteção cedeu.
Parte do bloco de concreto caiu em cima do jornalista, quando ele estava no mar. Colegas de profissão detalharam o acidente. “Foi desesperador, pois ele ficou um tempo desacordado”, contou o fotógrafo Fábio Nunes.
Nuno foi socorrido por dois militares do Corpo de Bombeiros e, apesar de estar sangrando, conseguiu subir à calçada com a ajuda deles. Logo depois, foi levado por uma ambulância do Samu ao Hospital São Lucas, perto dali. Ele sofreu um ferimento na cabeça e recebeu seis pontos.
À tarde, Nuno Moraes foi transferido para o Cias, da Unimed, em Itararé, também na Capital. O jornalista está internado em observação em estado estável.
Subsecretário: repórter foi imprudente
Depois do acidente em que o repórter da Rede Gazeta Nuno Moraes caiu na Baía de Vitória ao encostar na mureta da Avenida Beira-Mar, que não oferecia segurança, o subsecretário de Obras de Vitória, Juscelino Alves dos Santos, admitiu que a estrutura apresenta riscos para quem transita pelo local.
Juscelino lamentou a queda do repórter - que sofreu ferimentos na cabeça e foi resgatado pelos bombeiros -, mas responsabilizou o jornalista pelo acidente. “O local está sinalizado, e só temos a lamentar que o repórter, talvez na ânsia de fazer uma reportagem além da realidade, acabou sendo vítima de sua própria imprudência.”
Apesar da informação do subsecretário de que o local estava sinalizado, as muretas não estão isoladas, e a sinalização era feita com telas alaranjadas em trechos quebrados, sem interdição das estruturas.
O acidente com o repórter Nuno Moraes não foi o primeiro neste ano: em março, o remador Paulo Henrique Barros, do Saldanha, também caiu na Baía de Vitória após a mureta de proteção se romper. Ele sofreu cortes no dedo, além de arranhões nas costas e na perna. O local também não estava sinalizado, e as muretas já estavam em condições precárias.
CARO LEITOR
O culpado
Eficiência e sensibilidade andam passando longe do Palácio Jerônimo Monteiro, sede da Prefeitura de Vitória. Após armar uma enorme confusão com ambulantes – alguns, sexagenários – que ganham a vida nas praias, agora a administração municipal culpa um jornalista por um infeliz e perigoso acidente ocorrido com ele na Curva do Saldanha. Isso em meio à dor de mais uma tragédia registrada no local. “O repórter, talvez na ânsia de fazer uma reportagem além da realidade, acabou sendo vítima de sua própria imprudência”, disse o subsecretário de Execuções de Obras de Infraestrutura e Edificações da cidade, Juscelino Alves dos Santos, a respeito da queda no mar do repórter Nuno Moraes, que havia se apoiado nas muretas para acompanhar o resgate. Ou seja, a culpa dos ferimentos sofridos pelo jornalista não é do estado lastimável das muretas, do atraso da obra, da falta de verba - consequência do desequilíbrio das contas municipais? -, da ineficiência administrativa. A culpa é do profissional e sua “ânsia de fazer uma reportagem além da realidade”. O que o subsecretário quis dizer? Como pode haver "reportagem além da realidade" no resgate de um corpo no mar?
Mesmo porque, infelizmente, os acidentes na Curva do Saldanha são cada vez mais corriqueiros. "Vamos concluir o projeto da obra, mas não podemos garantir que não vão ocorrer novos acidentes", disse o subsecretário. Obviamente, ninguém espera da prefeitura o milagre da eliminação completa dos acidentes de trânsito, esse flagelo urbano. Mas espera algum estudo, alguma obra que mostre para a população que algo está sendo feito para evitar a repetição de cenas como as vistas ontem. Até o Penedo, testemunha das mortes ocorridas no local, sabe dos riscos existentes na Curva do Saldanha. E a prefeitura parece tratar como rotineiro um problema gravíssimo - ou a morte de cidadãos não é algo grave?
Para encerrar, gostaríamos de informar que o jornalista continua internado, em observação, e não há previsão de alta. A informação é importante, pois até o fim da noite de ontem ninguém da prefeitura havia se dignado a ligar para a Redação para perguntar sobre o estado de saúde de Nuno. Espera-se que a família de Linda Alves, a vítima maior do triste episódio, tenha tido mais atenção dos nossos administradores públicos.
(A Gazeta Online - Nuno Moraes e Natalie Marino )