quarta-feira, 3 de abril de 2013

Polícia vai indiciar estudante e motorista de ônibus por homicídio


Delegado, que vai pedir prisão dos dois, acredita que uma briga entre eles causou o acidente na Av. Brasil

Ana Claudia Costa (Email · Facebook · Twitter)
Renata Leite (Email · Facebook · Twitter)





RIO — O delegado José Pedro da Silva Costa, titular da 21ª DP (Bonsucesso), vai indiciar, por homicídio doloso, o motorista André Luís Souza Oliveira, de 33 anos, e o estudante de engenharia da UFRJ Rodrigo dos Santos Freire, de 25 anos, suspeito de iniciar a discussão que levou à queda do veículo do Viaduto Brigadeiro Tromposwski, na Avenida Brasil, na terça-feira. O policial disse que vai pedir a prisão preventiva dos dois, porque está convencido de que a briga causou o acidente com o coletivo da linha 328 (Castelo x Bananal). O delegado ouviu, nesta quarta-feira, testemunhas que reconheceram Rodrigo como a pessoa que agrediu o condutor pouco antes do acidente. Um passageiro disse que André Luís foi agredido pelo rapaz com um chute no rosto, que o deixou desacordado. O estudante, que fraturou a mandíbula e perdeu parte dos dentes, passou por uma cirurgia e está internado no Hospital municipal Miguel Couto, na Gávea, Zona Sul do Rio. Já o motorista esta internado no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, Zona Norte da cidade. Os dois dizem não se recordar do momento do acidente nem da discussão que levou à queda do ônibus.

Uma das testemunhas ouvidas pela polícia foi o cozinheiro Marcelo Silva de Oliveira. Ele foi levado pela polícia até o Hospital Miguel Couto, para tentar identificar o susposto agressor do motorista André Luís Sousa Oliveira. Marcelo prestou depoimento na tarde desta quarta-feira na 21ª DP (Bonsucesso), que investiga o caso. Ele teria reconhecido o estudante como o agressor de André Luís através de uma fotografia na delegacia. Nesta quarta-feira, peritos levaram para a delegacia peças do ônibus que devem ser analisadas e anexadas ao inquérito.
Quem revelou que uma das duas vítimas do acidente que estão internadas no Miguel Couto era o protagonista da confusão que ocorreu no interior do ônibus momentos antes de ele cair foi um médico da unidade, que não quis revelar sua identidade. Ele tirou a conclusão depois de comparar o paciente com a descrição do suposto agressor do motorista divulgada na imprensa. Outra funcionária disse ter ouvido uma mulher, que seria irmã do universitário, falando que a polícia o procurava.
Rodrigo foi operado na noite desta terça-feira. Segundo o médico, ele está evasivo e não responde as perguntas referentes ao acidente. O rapaz, inclusive, nega que estivesse dentro de ônibus. No Hospital Getúlio Vargas, onde está internado o motorista André Luís Souza Oliveira, o delegado que investiga o caso, José Pedro da Costa, afirmou que tentou falar com o paciente, mas ele permanece desorientado.
O chute no rosto teria deixado o motorista desacordado. Isso pode ter sido a causa do acidente com o coletivo da linha 328, que deixou sete mortos. O relato foi feito pelo cozinheiro Marcelo Silva de Oliveira. Ele disse que estava no veículo quando começou a discussão entre o estudante e o motorista, na saída da Ilha do Governador. Marcelo conta que o motorista já tinha partido do ponto de ônibus quando o estudante fez sinal, querendo obrigar o motorista a parar para que ele descesse. O condutor continuou andando e, então, o jovem pulou a roleta e iniciou a discussão. Em seguida, o cozinheiro disse que desceu num ponto na saída da Ilha e o veículo prosseguiu. Foi quando ele ouviu informações sobe o acidente e correu ao local para socorrer as amigas, também funcionárias do supermercado, que ainda estavam dentro do ônibus.
Marcelo afirmou que ajudou a socorrer várias pessoas, mas que, infelizmente, uma de suas colegas morreu. A que está viva contou a ele que no momento da discussão o estudante teria dado um chute na cara do motorista, que não estava correndo porque havia acabado de sair do ponto de ônibus. Por causa do chute, o motorista teria perdido os sentidos.
Internado no Miguel Couto, o estudante que teria iniciado a confusão no ônibus reclama bastante, seja de frio, pedindo mais cobertores, do cheiro do hospital ou da comida servida. Segundo o médico que o atende, ele está lúcido e não corre risco de morrer. O rapaz está internado na sala amarela, uma unidade intermediária em relação à gravidade. O próximo horário de visitas é às 16h, e uma jovem já teria estado com ele na manhã desta quarta-feira. Além do rapaz e do motorista, outras nove pessoas estão internadas, sendo quatro em estado grave. O delegado José Pedro da Costa está percorrendo os hospitais para ouvir vítimas do acidente. Depois de tentar falar com o motorista do ônibus, o delegado disse que André Luís não reconhece as pessoas e ainda não tem condições de prestar depoimento. No hospital, o delegado confirmou que o chip da câmera do ônibus se perdeu.
Segundo o presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus, José Carlos Sarmento, o motorista do coletivo não corre risco de morrer. Quatro pacientes estão em estado grave: dois homens que estão no Hospital municipal Miguel Couto, na Gávea; um rapaz de 18 anos que está no Hospital estadual Getúlio Vargas; e uma mulher com cerca de 30 anos, internada no Hospital estadual Adão Pereira Nunes, na Baixada Fluminense.
Sobreviventes internados no Hospital Getúlio Vargas, na Penha, ouvidos informalmente pela polícia na terça-feira contaram ter havido uma discussão entre passageiros e o motorista André Luís. Segundo o delegado João Pedro, os passageiros contaram que o motorista estava em alta velocidade e que não parou num ponto de ônibus solicitado por passageiros.
— Mas somente as imagens da câmera do ônibus irá esclarecer o que aconteceu. Há outras versões. A empresa diz que o coletivo tem câmera. Estamos procurando — disse o delegado, nesta terça.
Em estado de choque pós-traumático, o condutor não pôde esclarecer as causas do acidente na noite desta terça-feira. O delegado João Pedro Costa Silva conversou com ele no Hospital Getúlio Vargas e disse que o motorista está com a memória recente abalada.
— Ele acha que o acidente foi na Linha Amarela. E diz que um carro passou correndo e ele não teve tempo de nada. Não está em condições de falar. E isso é normal para quem sofreu um acidente como aquele — disse o policial.
O vice-presidente do Sindicato Rio Ônibus, Otacílio Monteiro, infromou que, de acordo com informações preliminares conseguidas com um funcionário da Paranapuan, empresa proprietária do coletivo, uma discussão entre o motorista do ônibus e um passageiro que pulou a roleta pode ter provocado o acidente. Otacílio não soube informar se os motoristas de ônibus do município recebem noções de como se comportar neste tipo de situação durante o treinamento que recebem antes de sair às ruas.
— Há uma carência muito grande de motoristas no Rio, muito por causa do crescimento da indústria civil, que vem absorvendo mão de obra. O município tem hoje 16 mil profissionais, que passam por uma formação oferecida por nós e também pelas empresas. Eles aprendem, além de dirigir o veículo, noções de legislação de trânsito, primeiros socorros, comportamento ao volante e direção defensiva. Não sei dizer se são orientados a como agir em situações como essas, que não são incomuns — disse ele, acrescentando que, como toda a frota do município, o ônibus tem uma câmera de segurança que pode ajudar a explicar o que causou o acidente. — Pelo que nos informaram, o motorista é um dos mais antigos da empresa.


O GLOBO 

Nenhum comentário: