quarta-feira, 3 de abril de 2013

Polícia investiga ameaças a taxistas de Santana do Livramento antes de suas execuções


Está sendo vasculhando o cotidiano das vítimas e pesquisada a lista de passageiros que chegaram da Capital à cidade em busca de pistas para encontrar o matador de taxistas

Uma semana antes de serem executados, os três taxistas de Santana do Livramento mudaram de comportamento. O ex-brigadiano Helio Beltrão do Espírito Santo Pinto, 46 anos, trocou o número do telefone celular. Márcio Fabiano Magalhães Oliveira, 33 anos, abraçou-se ao pai e chorou. Enio Rolim Lecina, 55 anos, descrito pelos amigos como um homem calmo, chamou a atenção por andar nervoso.

Na madrugada do dia 28, em um intervalo de quatro horas, os três foram executados com tiros na cabeça. Durante toda a tarde de ontem e uma parte da noite, Zero Hora percorreu ruas e avenidas de Livramento e Rivera, no Uruguai, cidades gêmeas da Fronteira Oeste, conversando com familiares, amigos e desafetos das vítimas. Um parente bem próximo a Pinto, que pediu para que seu nome fosse omitido, disse o seguinte:

— Há uma semana, ele começou a se cuidar. Não entrava mais em lugares onde tinha muita gente. E sempre olhava para trás. Perguntei o que estava acontecendo, ele disse que iria passar.

No dia seguinte à conversa, Pinto ligou avisando que havia trocado o número do celular, sem dar maiores explicações, recordou o parente. Dois dias depois, Pinto foi executado. Na periferia de Livramento, em um chalé de pintura surrada, ZH encontrou o pai do Oliveira, Olavo Moreira Magalhães, tratorista aposentado. 

Ele disse que o filho sempre foi uma pessoa apressada, nunca tinha tempo para uma conversa. Estranhou quando, dias antes de ser morto, ele o abraçou e chorou. Perguntou o que estava acontecendo. Respondeu que não era nada. No dia seguinte, ele foi a Rivera, onde vive a ex-mulher com os três filhos do casal. E ficou durante toda a manhã com as crianças, o que surpreendeu a família. 

— Será que ele já sabia o que iria acontecer ? — questiona Magalhães.

Entre as três vítimas, Lecina era o mais metódico. Seus amigos disseram a ZH que era possível prever o que ele faria durante o dia. Em raríssimas ocasiões mudou o comportamento. Daí terem estranhado o seu nervosismo dias antes da execução. 

Conexão com Porto Alegre
Há depoimentos no inquérito que apura a execução dos três taxistas que mostram a mudança de comportamento deles. A polícia procura saber se esta mudança significa que eles estavam sendo ameaçados. Sem entrar em detalhes da investigação, o delegado Eduardo Sant Anna Finn afirmou que o atual estágio da apuração é o acúmulo de conhecimento sobre o que aconteceu. 

— Estamos lidando com uma situação complexa que pode ter uma resposta muito simples. Mas para chegarmos lá é preciso apurar mais — acredita Finn.

Em busca da possível conexão das execuções que aconteceram em Livramento com as dos outros três taxistas em Porto Alegre, Finn pediu as listas dos passageiros dos ônibus que fazem o trajeto da Capital. Além do delegado, outros 19 policiais, sendo dois deles do Serviço de Inteligência da Polícia Civil, estão trabalhando no caso.

Lembre do caso 
Na quinta-feira, os corpos de três taxistas de Santana do Livramento foram encontrados jogados em áreas residenciais com marcas de tiros na cabeça. Seus táxis foram achados distantes dos veículos. Os cadáveres e os automóveis foram localizados em Santana do Livramento e na cidade vizinha uruguaia, Rivera. 

As vítimas
  
Enio Rolim Lecina - Brasileiro, morava em Rivera, mas trabalhava como autônomo na rodoviária de Santana do Livramento. Conhecido como Tito, tinha 56 anos. Segundo a família, Tito morava com a mulher, tinha uma filha de 24 anos e não possuía inimizades. O carro que usava para trabalhar, do qual era proprietário, um Elba verde escuro, foi encontrado no bairro Amour, em Santana do Livramento. O corpo da vítima foi localizado em Rivera. Ele atuava como taxista há 25 anos. 


 
Helio Beltrão do Espírito Santo Pinto - Brasileiro, 46 anos, morava em Santana do Livramento. Era casado e tinha três filhas. Segundo familiares, mudaria para Caxias do Sul no fim do mês para trabalhar em uma fábrica. Era ex-policial militar e teria sido expulso da corporação por suposta corrupção. A família suspeita de vingança. Trabalhava como taxista desde que saiu da BM. O carro que usava para o serviço - era funcionário -, um Uno branco, foi encontrado a seis quilômetros de distância do corpo da vítima. 

 
Márcio Fabiano Magalhães Oliveira - Uruguaio, tinha 33 anos e residia em Santana do Livramento. Oliveira foi encontrado morto em Santana do Livramento. Já o Gol Branco, que utilizava para trabalhar, foi achado no centro de Rivera.
ZERO HORA

Nenhum comentário: