Passageiros nem notam que sofrem o furto
Carolina Rocha
A foto de um suposto punguista que age nas linhas de ônibus da Capital é um dos assuntos da semana entre motoristas, cobradores e passageiros das linhas 510, 520, T2 e T9. Não só porque ele é visto diariamente nos ônibus furtando os desatentos. Nem porque a imagem, postada por uma jovem estudante, teve mais de 25,5 mil compartilhamentos no facebook desde segunda-feira.
O motivo é que Cebola, como ele é conhecido, é apenas mais um dos vários batedores de carteira que agem nos coletivos da região.
Não é preciso nem cinco minutos de conversa com cobradores e motoristas da Carris para ouvir relatos de furtos presenciados por eles. Antes vítimas dos assaltos, agora eles são testemunhas dos afanos dentro dos ônibus.
Casaco e bolsa para disfarçar
Cebola é a bola da vez. Ele é branco, cerca de 1,70m e aparenta entre 50 e 55 anos. Com um óculos de grau, uma bolsa a tiracolo e casaco no braço, circula pelo ônibus. O modo como age é sempre o mesmo: entra no veículo e vai até o local destinado para cadeirantes.
Ali, fica à espera da vítima - em geral, passageiros de pé, distraídos. Em poucos segundos, abre a bolsa ou mochila e furta o que encontra, usando o casaco para encobrir uma das mãos. Logo depois, desembarca sem que o passageiro tenha percebido o ataque.
Punguista foi fotografado
- Ele tentou duas vezes. Em agosto e em dezembro do ano passado, na linha 520 (Terminal Triângulo-24 de Outubro). Nas duas, consegui puxar a bolsa e evitar. Na segunda-feira, vi ele dentro do ônibus e fiz a foto quando ele tentava abrir a bolsa de outra passageira - contou a estudante de 23 anos.
Passageira não notou o furto
Ontem pela manhã, Cebola foi visto duas vezes na linha 510-Auxiliadora. Na quarta, circulou no T2 e desceu próximo ao Hospital Mãe de Deus. Não demorou para que uma passageira notasse o furto de seu celular - quando ela reclamou à cobradora, já era tarde.
"Ele é ladrão com estagiário"
Pelas contas de cobradores e motoristas, pelo menos outros quatro punguistas agem nas linhas que circulam pelos bairros Higienópolis, Bom Fim, Auxiliadora, Moinhos de Vento e Floresta.
- Um dos caras todo mundo conhece, faz 30 anos que ele bate carteira no ônibus. Agora, está treinando o substituto. O pessoal brinca que ele é ladrão com estagiário - conta um motorista.
Outro funcionário relata um fato ocorrido em janeiro. Após nove integrantes de um bando entrarem no ônibus (um deles armado), o motorista fingiu ter uma crise nervosa e parou o ônibus em frente à Corregedoria Geral da Polícia Civil, na Avenida Osvaldo Aranha. Só assim evitou que os passageiros fossem vítimas de um arrastão.
Outro motorista lembra que um dos bandos mais conhecidos da Capital, a Gangue das Gordas, segue agindo. Algumas integrantes foram presas em janeiro, mas já estão circulando pelas linhas de ônibus novamente.
Brigada promete ação urgente
Ontem, após receber o link da publicação feita no facebook, a capitã Marta França Moreira, que responde pelo serviço de inteligência do Comando do Policiamento da Capital (CPC), prometeu ações urgentes:
- Vamos identificá-lo para saber quem é e passar um alerta a todos os batalhões.
Segundo ela, a atitude da estudante de 23 anos é fundamental para coibir esse tipo de crime. Em geral, quando registram ocorrência, vítimas não conseguem apontar um suspeito. Por isso, identificar quais punguistas estão agindo e em que linhas é fundamental.
- Não temos como colocar um PM à paisana em cada ônibus. Quando as pessoas nos trazem uma foto, um apelido, algo que possa nos ajudar a identificar, ajuda muito - explica a capitã.
Por enquanto, sem a identificação dos punguistas, fica o alerta de uma cobradora.
- Não dá nem pra piscar. Piscou, já era.
Dicas de segurança
Testemunhas dos furtos, os cobradores e motoristas alertam sobre os cuidados que os passageiros devem tomar:
Quando ficar de pé, redobre os cuidados com bolsas, mochilas e carteiras.
Depois de passar pela roleta, feche a bolsa e guarde a carteira. Bolsa aberta é isca para punguistas.
Os bandidos têm preferido linhas com grande lotação e veículos com ar-condicionado. Se pegar um ônibus assim, redobre os cuidados.
Bolsas grandes, sacolas plásticas e casacos são usados pelos ladrões para disfarçar enquanto tentam abrir a sua bolsa.
ZERO HORA
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