quarta-feira, 3 de março de 2010

Brasília: Cinto de segurança é ignorado por 90% dos que ocupam os assentos traseiros

Atar o cinto de segurança ao corpo leva menos de cinco segundos. É simples, rápido e evita 46% das mortes no banco da frente dos veículos. Quem deixa de usar o equipamento no banco traseiro fica ainda mais vulnerável, tendo o risco de morte aumentado em até cinco vezes, segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet). Apesar da comprovada eficiência, ainda há quem ignore o equipamento de segurança(1). Hoje faz 15 anos que o uso do cinto passou a ser obrigatório no Distrito Federal (veja O que diz a lei). Ainda assim, os órgãos de trânsito estimam que 90% dos brasilienses deixam de usá-lo no banco de trás.
O Distrito Federal e São Paulo foram pioneiros na iniciativa de cobrar o uso do equipamento e ajudaram a alertar o resto do país sobre a importância do cinto para evitar as mortes. Quando o Departamento de Trânsito (Detran) do DF decidiu fiscalizar o motorista e o passageiro, a partir de 3 de março de 1995, morriam, em média, 54 pessoas por mês na capital da República. No ano seguinte, o número de vítimas caiu para 50,8. Em 2008, esse número ficou em 34,8 (35% a menos que há 15 anos). As estatísticas de 2009 ainda não foram concluídas.
Apesar do resultado, é impossível atribuir a redução das mortes nas pistas exclusivamente ao uso do cinto porque o Detran não fez nenhum estudo para dimensionar o impacto da medida. O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) também não. Mas, na dissertação de mestrado O comportamento do brasiliense na faixa de pedestre: exemplo de uma intervenção cultural, defendida em 2002, no Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Vívica Lé Sénéchal Machado afirma que o cinto de segurança foi a primeira medida que começou a mudar o trânsito de Brasília, tornando-o mais seguro.
Outras medidas
No ano seguinte à adoção da medida, o Detran lançou a campanha Paz no Trânsito. Logo depois, vieram os controladores eletrônicos de velocidade, que tiveram grande impacto na redução das estatísticas. A bancária Juliana Santos Carizzi, 23 anos, não precisa de números para ter a certeza que teve a vida salva pelo cinto. Há quatro anos, ela conta que cochilou ao volante, saiu da pista e capotou três vezes. Todos os vidros do carro ficaram estilhaçados e o veículo, completamente destruído, acabou vendido para um ferro-velho. Juliana saiu ilesa. “O acidente foi tão violento que o cinto deixou uma marca vermelha no meu ombro e no peito por quase um mês. Se eu não tivesse de cinto, teria sido jogada para fora do carro e o pior poderia ter acontecido”, lembra.
O trânsito faz tantas vítimas no mundo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) elegeu o tema acidentes de trânsito para a campanha da próxima década — 2010 a 2020. Para o diretor da Abramet, Flávio Adura, apesar da simplicidade, o uso do cinto é o melhor mecanismo de proteção em acidentes ocorridos nas pistas. Segundo ele, quem utiliza o equipamento de três pontas reduz em 60% os ferimentos de uma forma geral, 50% dos machucados na cabeça e pescoço e 70% dos ferimentos no tórax e no abdome.
Os dados usados pela Abramet referem-se a pesquisas publicadas na revista britânica The Lancet, uma das mais conceituadas no segmento médico, e também da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), que é como se fosse o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) americano. “É muito triste que, por desconhecimento ou negligência, alguns morrem ou ficam com lesões irreversíveis porque não colocaram o cinto. O benefício do uso é muito maior que qualquer incômodo”, alerta Flávio Adura.
Desde o fim do ano passado, o Detran decidiu aumentar a fiscalização ao motorista que ignora o cinto. De 1º de janeiro a 26 de fevereiro deste ano, os fiscais emitiram 5.691 multas, o que dá uma média diária de quase 100 casos. Ao longo de 2008, o órgão de trânsito aplicou 38.683 multas porque o motorista ou passageiros estavam sem o equipamento – a média diária ficou em 105,9 casos. Em 2009, foram 33.598 flagrantes da mesma natureza, ou média diária de 91,8 multas.
Correio Braziliense

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