terça-feira, 15 de setembro de 2009

Minas: Duplicação da BR-381 vai demorar ao menos mais cinco anos

RODOVIA DA MORTE

Quem é obrigado a passar pela BR-381, entre Belo Horizonte e João Monlevade, na Região Central de Minas – no trecho conhecido como Rodovia da Morte, pelo alto índice de acidentes com mortes e feridos –, pode continuar rezando pelos próximos cinco anos para não ser mais uma vítima. A previsão, nada animadora, é do superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) em Minas, Sebastião Donizete de Souza, que admite que a rodovia já deveria ter sido duplicada há pelo menos cinco anos e que não compreende por que isso não ocorreu. “Infelizmente, não adianta ficarmos remoendo o passado. Vamos ter de conviver com a situação pelos próximos cinco anos porque estamos começando agora o processo de elaboração de projetos”, informa.
Os estudos devem ficar prontos em 10 meses. Depois, segundo Sebastião, haverá o processo licitatório, que tende a ser complicado e vai envolver recursos da ordem de R$ 2,5 bilhões. “A rodovia é extremamente sinuosa, o que vai dificultar a execução das obras. Evidentemente teremos várias edificações e túneis para eliminação de curvas”, diz. Também está prevista a construção de uma variante próximo a São Gonçalo do Rio Abaixo, na Região Central, passando por trás de João Monlevade. Ela vai eliminar uma série de outras curvas. Os recursos para elaboração dos projetos, segundo Sebastião, já estão assegurados pelo governo federal.
Quinta-feira passada, o Dnit teve autorização para assinar contratos para elaboração dos projetos, o que deve ocorrer ainda esta semana. Os trechos contemplados vão desde Belo Horizonte até São Gonçalo do Rio Abaixo e, depois, de João Monlevade até Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. “Estamos assinando contrato de oito lotes esta semana. Amanhã (hoje) teremos reunião com todas as empresas que venceram a concorrência para darmos o pontapé inicial. As equipes de topografia estarão na rodovia no próximo mês”, diz Sebastião Donizete. Ainda falta contrato para dois lotes correspondentes à variante. “Para esse trecho, não houve concorrentes e estamos fazendo uma contratação direta, sem licitação, para não perdermos muito tempo”, acrescenta. A BR-381 tem pista simples e mais de 250 curvas fechadas nos 108 quilômetros entre a capital e Monlevade. A média é de 2,3 curvas a cada quilômetro e, além disso, a topografia é acidentada, com muitos aclives e declives.
Na manhã de segunda-feira, manifestantes da organização não governamental Movimento SOS Rodovias Federais em Minas, que desde março vem parando o trânsito na BR-381 uma vez por mês para pedir providências, transferiram o protesto para o saguão da Assembleia Legislativa de Minas e para a frente da sede do Dnit, no Bairro Santo Antônio, ambos na Zona Sul da cidade. Na sede do Dnit, eles fincaram cruzes brancas, com laços roxos, simbolizando as mortes na rodovia, e também cruzes pretas, maiores, simbolizando o descaso da União.
Eles entregaram ao superintendente do Dnit um manifesto com 14 medidas paliativas de emergência para diminuir a matança na BR-381. No ano passado, foram 138 mortes nesse trecho, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em toda a extensão da BR-381 em Minas, incluindo o trecho duplicado de Belo Horizonte a São Paulo, foram 8.254 acidentes, 3.707 feridos leves, 1.235 feridos graves e 277 mortes na pista. Segundo o presidente da ONG, José Aparecido Ribeiro, 40% dos feridos graves morreram posteriormente, depois do socorro, e não foram incluídos no balanço da PRF. “O que eleva para mais de 700 mortes em apenas um ano na BR-381 em Minas”, alerta.
Além da fase de projetos e licitação, serão mais três anos para conclusão da obra de duplicação. Até lá, acrescentou Donizete, o Dnit está estudando, com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), propostas para amenizar os atuais problemas. “Isso passa pela colocação de radares. Fizemos um estudo técnico, pois a PRF precisava dele para a instalação dos equipamentos, o que deve ser feito nos próximos dias”, acrescenta. Os técnicos da UFSC já estão em Minas fazendo a contagem de tráfego na rodovia e colhendo outros dados para uma reunião com o Dnit no dia 30, quando serão discutidas alternativas para acabar com os acidentes até a duplicação. Algumas delas são a melhoria da sinalização, uma campanha educativa, colocação de olhos de gatos e tachas separando as pistas nas curvas ou mesmo quebra-molas.
BR-262 E Anel
Sebastião Donizete mencionou a duplicação da BR-262, entre Betim, na Grande BH, e o Triângulo Mineiro. A estimativa de obras era de três anos e as empresas estão trabalhando com cronograma de 18 meses. “Evidentemente, as condições topográficas da BR-262 são bem mais favoráveis do que as da 381. Nossa visão de cinco anos para a BR-381 é realista. Evidentemente que, começando as obras, a gente pode ter expectativa de antecipar o prazo”, acrescenta.
Uma audiência pública prevista para as 9h de quarta-feira, na sede do Dnit, será a primeira etapa da concorrência para obras no Anel Rodoviário, que corta Belo Horizonte. O investimento será de R$ 700 milhões, segundo Donizete, e prevê melhorias como alargamento de viadutos, nas interseções e a concretagem da pista de rolamento. “Em meados de outubro já estaremos lançando a concorrência. Também estamos estudando, com a UFSC, a instalação de câmeras no Anel Rodoviário e colocação de guinchos e ambulâncias. Isso vai permitir ao Dnit monitorar a rodovia 24 horas e ter ações efetivas para desembolar o trânsito”, disse Sebastião.
(Diário da Tarde)

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