segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Trânsito mata uma pessoa a cada 20 horas em Curitiba



Só em 2008 foram 424 mortes em decorrência da violência do trânsito na capital. Cidade tem a 9.ª maior taxa de mortalidade do país.


O trânsito mata uma pessoa a ca­­da 20 horas, em média, em Curiti­ba. Só em 2008 foram 424 mortes em decorrência da violência nas ruas da capital paranaense, cidade com a 9.ª maior taxa de mortalidade do país, segundo o último ran­king na­­cional. Os dados, levantados pela Secretaria Municipal de Saúde a partir dos registros de óbitos, surpreendem, já que mostram um número quatro vezes superior ao número de mortes co­­­nhecido e divulgado pelo Bata­lhão de Polícia de Trânsito (BPTran) até então. Em 2008, segundo o BPTran, foram 98 óbitos. A diferença ocorre porque o órgão limita-se a contabilizar as mortes no lo­­cal do acidente, ex­­cluindo, portanto, as que ocorrem em hospitais.

Para o especialista em programas de segurança no trânsito J. Pe­­dro Corrêa, os números revelam uma realidade preocupante. Ele diz que países desenvolvidos registram uma taxa de mortalidade de cinco pessoas a cada grupo de cem mil. No Brasil, a taxa média é de 19. Curitiba ultrapassa a média nacional, com uma taxa de 22,4 mortes no trânsito a cada cem mil habitantes.
“Nós estacionamos num patamar alto”, avalia a coordenadora de Diagnóstico e Saúde do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde,Vera Lídia Alves de Oliveira. “Uma cidade que é tida como modelo em termos de desenvolvimento, como é o caso de Curitiba, não pode aceitar este tipo de estatística”, opina J. Pedro.


Feridos


Os números assustam e mostram que o trânsito é um problema de saúde pública. Todos os anos, o Brasil registra cerca de 35 mil mortes. Para cada morte, estima-se que outras dez pessoas fi­­quem feridas. Em Curitiba, esse número é ainda maior. Em 2008, os acidentes deixaram 9.325 pessoas feridas, uma média de 1 morte a cada 22 feridos, aproximadamente. É como se uma pessoa fi­­casse ferida a cada hora em algum canto da cidade, vítima de 1 acidente de trânsito.

Uma pesquisa feita pelo Hos­pi­­tal das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo mostra que o custo médio da internação hospitalar de uma vítima de acidente de trânsito é de qua­­se R$ 48 mil. Quando a vítima necessita de internação em Unida­de de Terapia Intensiva (UTI), o que acontece em 18% dos casos, os gastos podem chegar a R$ 226 mil.

Tantas mortes e vítimas não tem contribuído para que o comportamento no trânsito mude. A forma como a sociedade enxerga o trânsito pode explicar isso, segundo a professora Iara Thielen, coordenadora do Nú­­cleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná. “Nós, como sociedade, consentimos com essa mutilação. Nós aceitamos as mortes no trânsito como acidentes, quando não são. Nós ouvimos todos os dias que essas mortes são evitáveis, mas não acreditamos que é o nosso comportamento que gera isso”, explica.


Sistema viário


Se o comportamento descrito pe­­la psicóloga é comum ao ser humano, por que os números de mortalidade no trânsito são altos em Curitiba? A presidente da As­socia­ção Brasileira de Me­­dicina do Tráfego no Paraná (Abramet-PR), Ana Maria Kerr Saraiva Szymams­ki, arrisca uma explicação. “O sistema viário da cidade não acompanhou o crescimento da frota”, afir­­ma. “Nós temos um sistema viário semelhante ao de Goiânia e ao de Brasília, com vias rápidas e, por isso, as nossas taxas são parecidas com as dessas cidades. Já São Pau­lo, por exemplo, tem um indicador baixo porque a quantidade de carro é tão grande que a velocidade no trânsito é muito baixa”, explica Vera.

Independentemente do tipo do sistema viário da cidade, a violência no trânsito é uma questão de comportamento. De acordo com Iara, enquanto ca­­da um não chamar para si a responsabilidade, nada vai mudar. “Agindo como se a responsabilidade fosse sempre dos outros, nenhuma pessoa se dispõe a mudar seu próprio comportamento, esperando sempre que alguém faça isso”, explica. A consequência desse tipo de visão sobre o trânsito, diz ela, é a minimização da responsabilização individual. É como se o motorista passasse a responsabilidade a um outro motorista genérico e problemático e que está bem longe dele. “O trânsito não é violento. As pessoas é que são”, lembra Iara.

(Gazeta do Povo)


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