terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Caso Adrielly: Polícia indicia neurocirurgião por omissão de socorro

Chefe de equipe (foto) disse não conhecer pessoalmente médico que faltou ao plantão

RIO — O delegado titular da 23ª DP (Méier), Luiz Archimedes, indiciou, na tarde desta terça-feira, o neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves, que faltou ao plantão no Hospital municipal Salgado Filho na noite de Natal, por omissão de socorro à menina Adrielly dos Santos Veira, de 10 anos, baleada na cabeça. Depois de ouvir o depoimento de médicos e do responsável por chefiar a emergência no último dia 24, o delegado decidiu pelo indiciamento. O chefe da emergência contou à polícia que, apesar de estar na mesma escala de serviço de Adão Gonçalves há dois anos, nunca tinha visto o neurocirurgião no hospital. Durante o plantão de Natal, Adrielly precisou esperar por oito horas por uma cirurgia. A menina morreu na semana passada.
A pena para omissão de socorro (Art. 135 do Código Penal) é de um a seis meses de detenção, podendo ser triplicada em caso de morte. O procedimento está sendo enviado à Secretaria Municipal de Saúde.
Também nesta terça-feira, o médico Ênio Eduardo Lima Lopes, chefe da equipe de plantão do Hospital Salgado Filho na noite de Natal, compareceu à 23ª DP (Méier), após faltar às duas requisições para depor no inquérito que apura o crime. O líder da equipe disse que, apesar de ser da mesma escala do neurocirurgião Adão e de trabalhar há dois anos na unidade hospitalar, não o conhece pessoalmente. Ele afirmou em depoimento que, logo depois de ter sido comunicado do caso grave de Adrielly, acionou por fax o sistema de "Vaga Zero" — quando a transferência deve ser feita imediatamente, sem consulta sobre existência de vaga.
Segundo o delegado Luiz Archimedes, que ouviu o médico, o fax foi enviado por Rafael José, funcionário do núcleo interno de regulação de leitos. Ênio Lopes explicou que o Salgado Filho não dispõe de ambulâncias próprias e que, por isso, tentou utilizar um veículo da empresa Savior que estava na frente da unidade. De acordo com ele, os funcionários da em presa disseram que não poderiam fazer a transferência porque a ambulância era para uso exclusivo de pessoas adultas.
Ênio Lopes contou ainda que Fernando Parreira, outro funcionário do núcleo de regulação, confirmou o recebimento do fax pela Central de Regulação de Leitos.
— O médico disse que às 5h expediu uma autorização para que a criança fosse transferida por uma ambulância do GSA, mas contou que, enquanto aguardavam a chegada dela, apareceu o neurocirurgião Mário Lapenta, que operou a menina — contou Luiz Archimedes.
O médico explicou também que, como chefe de equipe, compete a ele assinalar a falta do funcionário no livro do plantão, mas salientou que não lhe compete o corte do ponto do dia do profissional. O delegado disse que vai intimar os dois funcionários do Hospital Salgado Filho para depor, se possível ainda nesta terça-feira.
Nesta segunda-feira, o neurocirurgião Adão Orlando Crespo Gonçalves decidiu romper o silêncio e responder a perguntas do GLOBO sobre o caso. Segundo ele, em dezembro, a unidade de saúde ficou sem médico da sua especialidade toda segunda-feira, das 8h às 20h, por causa de férias de um dos médicos de sua equipe, para o qual não foi escalado qualquer substituto. Ele próprio faltou a seis plantões e alega que, apesar de ter avisado, nenhum profissional foi posto em seu lugar. Adrielly foi transferida para o Hospital Souza Aguiar, onde acabou morrendo no dia 28 de dezembro.




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