BR-040 é a mais perigosa, com 83 colisões a cada 30 dias. Em segundo lugar aparece a BR-020
De um lado, as BRs 020, 040 e 060. Do outro, a BR-070. Três das quatro principais rodovias federais que cortam o Distrito Federal (confira mapa ao lado) apresentaram um aumento na média mensal de acidentes. Levantamento realizado pela Polícia Rodoviária Federal aponta que cresceu em 22% a quantidade de colisões nas estradas. Nas rodovias sob jurisdição do GDF, a realidade se repete: ano passado, a média era de 15 colisões por mês, enquanto este ano subiu para 16, até agosto.
De um lado, as BRs 020, 040 e 060. Do outro, a BR-070. Três das quatro principais rodovias federais que cortam o Distrito Federal (confira mapa ao lado) apresentaram um aumento na média mensal de acidentes. Levantamento realizado pela Polícia Rodoviária Federal aponta que cresceu em 22% a quantidade de colisões nas estradas. Nas rodovias sob jurisdição do GDF, a realidade se repete: ano passado, a média era de 15 colisões por mês, enquanto este ano subiu para 16, até agosto.
Entre as federais, a BR-040 pode ser considerada a via mais perigosa, com uma média mensal de 83 acidentes. Em 2008, eram 70. Em segundo lugar aparece a BR-020, com 53 acidentes por mês, em comparação com 49 no ano passado. A BR-060 registrou 27 acidentes mensais. Este ano, somente até agosto, foram 30. A BR-070 foi a única que registrou queda no número de acidentes a cada mês. Mas, em compensação, ocupa o segundo lugar quando se trata de acidentes fatais, com 8 casos. Em primeiro lugar está a BR-020, com 22 mortes este ano. De todas as DFs, a Epia é a mais perigosa, registrando 21 casos fatais até agosto deste ano — em 2008, foram 14. Na noite da última segunda-feira, uma mulher morreu atropelada em frente ao Carrefour Sul.
Obras de duplicação
Os motoristas enfrentam problemas com o trânsito e com as condições da estrada ao longo de toda a BR-020. Até a altura de Planaltina, a pista passa por obras de duplicação. Com a grande quantidade de carros nos horários de pico, engarrafamentos e colisões são constantes. O comerciante Vanderlan José do Nascimento, 21 anos, morador de um dos condomínios de Sobradinho, trocou o emprego e o meio de transporte para evitar o congestionamento em dois horários: às 7h e às 18h. Ele percorre todos os dias sete quilômetros de bicicleta. “O motorista vem correndo e, de repente, se depara com as obras. Aí ocorrem os acidentes. Não tem fiscalização nem sinalização. Quando eu andava de moto, via todos os dias motoqueiros caídos no chão e até mesmo mortos”, contou.
A partir do Km 25, em direção ao estado de Goiás, a pista passa a ser de mão dupla. Nesse trecho, o perigo é constante. Motoristas não respeitam a sinalização, realizam ultrapassagens perigosas, andam pelo acostamento e em alta velocidade. Além disso, a rua não conta com iluminação à noite. Na última sexta-feira, em menos de 10 minutos de espera, a equipe do Correio flagrou um caminhão estilo cegonha ultrapassando outro veículo lento em uma subida. Na hora, um carro, que andava no sentido contrário, foi obrigado a usar o acostamento para evitar a colisão frontal com a cegonheira do motorista imprudente.
Lugar perigoso
Já entre as rodovias locais, a Epia (DF-003) e a DF-001, que no trecho entre o Itapoã e o Paranoá, são palcos de acidentes graves todos os meses. Com as obras recentes, o número de acidentes na Epia diminuiu. Os condutores que passam pelo local diariamente perceberam a diferença. “O único problema é a obra, que obriga os carros a afunilar em determinados pontos. Além do enorme engarrafamento”, disse o comerciante Carlos Alberto da Silva, 51 anos. Para os motoristas da DF-001 a reforma é a única forma de melhorar a via. O trecho em frente ao Itapoã não conta com acostamento e espaço para pessoas entrarem e descerem dos ônibus. Crianças brincam à beira da estrada, pessoas atravessam a pista a todo instante, a sinalização é confusa e carros passam por ali em alta velocidade.
“O lugar é perigoso. A pista é estreita, a faixa de pedestres está apagada e os motoristas andam em alta velocidade. Falta fiscalização e consciência aos motoristas. Os problemas constantes surgem por uma mistura de fatores”, acredita o representante comercial Egberto Baptista Pires Junior, 45 anos, que passa todos os dias no local às 7h e às 18h. O inspetor da Polícia Rodoviária Federal D. Lucas Barbosa responsabiliza os motoristas pelos acidentes nas estradas. “Os condutores andam em alta velocidade, podem perder o controle do carro e capotar, além de bater em outros carros. As pistas do DF estão em boas condições”, avaliou.
Na Pesquisa Rodoviária 2009 da Confederação Nacional do Transporte (CNT), que avalia a condição das estradas em todo o Brasil, o Distrito Federal conta 61,9% da malha rodoviária em situação regular ou ruim. O selo de ótimo foi dado apenas a 24,7% das estradas. O investimento necessário para mudar a realidade ultrapassa R$ 5,7 bilhões, além dos R$ 21,6 milhões de manutenção anual.
» Palavra de especialista: risco constante
A quantidade de acidentes nas rodovias é um problema recorrente no Brasil. A tecnologia com que construímos as nossas estradas nos remete aos anos 1950 e 1960. Hoje, os carros são muito mais rápidos e a quantidade também é maior. Ocorreu uma evolução assimétrica dos veículos em relação à tecnologia usada para a construção de estradas no Brasil. As vias são estreitas, com muitas curvas, subidas e descidas. E poucas vias são duplicadas. Ainda existe o problema da grande quantidade de buraco, falta de sinalização e condições básicas para o motorista. Vários fatores somados resultam em um risco constante para as pessoas que trafegam por essas estradas. As rodovias são verdadeiros vetores que estimulam o crescimento de cidades. Como consequência, muitas pessoas passam a morar próximo às estradas.
Ainda encontramos veículos sem a menor condição de circular. Em alguns casos, os motoristas são os irresponsáveis. Os número de mortes em acidentes no trânsito foi o menor na Bélgica desde 1951. Nos Estados Unidos, a mesma coisa: o menor índice de mortes nas estradas desde 1971. E o país tem uma frota de veículos seis vezes maior que a nossa. Ou seja, tem alguma coisa errada aí. Para diminuir esse risco, basta seguir as dicas básicas. É como a higienização de um médico antes de entrar em uma cirurgia. Ele precisa seguir um ritual de higiene básica para, só então, atender o paciente. No trânsito é a mesma coisa. Basta atenção, obediência das regras e cuidado. Grande parte dos acidentes no país acontece por falta de cuidados elementares. Eu diria até mesmo rudimentares.
David Duarte Lima é professor do curso de medicina na Universidade de Brasília e doutor em segurança de trânsito.
(Correio Braziliense - Juliana Boechat )
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