Ainda que as autoridades tenham reforçado a fiscalização e as campanhas de conscientização, foram 53 mortes a mais em 2012 em relação ao ano anterior
A imprudência venceu uma batalha contra a prevenção. Mesmo com a guerra declarada pelos órgãos de fiscalização à combinação letal entre álcool e direção, o número de mortes no trânsito gaúcho em 2012 superou o registrado em 2011. A barreira das 2 mil vítimas de acidentes em ruas, avenidas e rodovias foi, pelo terceiro ano seguido, ultrapassada no Rio Grande do Sul.
Dados preliminares divulgados pelo Departamento Estadual de Trânsito (Detran) apontam um aumento de 2,62% no número de mortes nas vias do Estado. Isso significa que houve 53 vítimas de capotagens, colisões ou atropelamentos a mais entre janeiro e dezembro passados na comparação com o mesmo período anterior. Foram 2.078 mortes, contra 2.025 em 2011.
Considerando que o aumento na frota deve ficar em torno de 7% no período, o número de óbitos é interpretado como estável por especialistas. O total (que ainda pode aumentar, pois o Detran monitora feridos que morrem em hospitais até 30 dias após os acidentes), entretanto, é alarmante. O diretor-técnico do Detran, Ildo Mário Szinvelski, lamenta o alto número de mortes e coloca a carnificina na conta de uma velha conhecida das autoridades: a imprudência dos motoristas.
— O número de acidentes é uma questão, em primeiro lugar, da responsabilidade do condutor. Essa questão da consciência das pessoas, da impaciência, imprudência de não observar regras e leis de trânsito — alega.
Szinvelski afirma que o órgão trabalha para intensificar a fiscalização nas rodovias e reforçar ações de educação no trânsito em escolas. Além disso, estão em estudo mudanças nas grades curriculares dos Centros de Formação de Condutores. A ideia é do respeito a pedestres e ciclistas. As alterações estão sendo avaliadas.
Mais homens entre as vítimas
Considerando balanços anuais desde 2007, a trajetória da mortandade apresentou baixa apenas entre 2010 e 2011. O levantamento de 2012 confirma tendências registradas anteriormente, como a predominância de homens entre os mortos e mais óbitos entre sexta-feira e domingo.
Para o especialista em transportes e professor da UFRGS João Fortini Albano, a análise de números absolutos requer precaução. Albano explica que, com o aumento da frota, o número de viagens e de quilômetros percorridos aumenta consideravelmente, resultando em uma exposição maior ao risco de acidentes. Além disso, o professor entende que muitos motoristas inexperientes, que não tinham carro até pouco tempo atrás, passaram a andar em estradas.
— Claro que são 53 mortes a mais. Mas, se fizermos uma taxa dividindo frota por mortos, veremos que o índice baixa nos últimos anos. As campanhas de direção segura e o aumento da fiscalização mantiveram os parâmetros. É preciso melhorar a formação de condutores levando eles às estradas, tornar obrigatório o treinamento nas rodovias — argumenta Albano.
Ausência de radares gera divergências
Especialistas e autoridades ouvidos por Zero Hora divergem sobre a contribuição da ausência de radares nas rodovias estaduais (os equipamentos estão desativados há mais de dois anos) e a demora na instalação dos aparelhos em parte das estradas federais para a elevação no número de mortes. É o que pensa o professor de transportes e trânsito do curso de Engenharia Civil da Unisinos, João Hermes Junqueira. Ele ressalta que os pardais ou lombadas eletrônicas resumem a fiscalização a pontos restritos:
— Se tivesse a via toda com o radar, seria diferente, mas não há essa condição. As operações sistemáticas, como a Balada Segura e o Viagem Segura, é que são importantes. Nessas você fala com as pessoas, conscientiza e traz resultados benéficos.
O diretor Ildo Szinvelski entende que a ausência de controladores tem influência sobre o número de mortes, sob o argumento de que o excesso de velocidade é a infração mais recorrente dos motoristas gaúchos.
— A infraestrutura das estradas também não acompanhou o aumento da frota. Temos de aproveitar outros modais, como o transporte hidroviário e os trens — conclui o diretor.
Pedro Moreira
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