Hellen Uchôa, 11 anos, saiu de casa no Parque Estrela Dalva V e não voltou. A família desconfia que a garota pode ter sido mais uma vítima do pedreiro Ademar Jesus, que morava a menos de 1km
Tristeza. Esse é o sentimento que acompanha a dona de casa Raimunda Uchôa Bezerra, 42 anos, desde 15 de maio de 2005, quando a filha Hellen Uchôa Barroso, então com 11 anos, saiu de casa no Parque Estrela Dalva V, em Luziânia (GO) e nunca mais voltou. O bairro é o mesmo onde moravam os seis adolescentes assassinados brutalmente pelo pedreiro Ademar Jesus da Silva, 40 anos. Ele foi encontrado morto dentro de uma cela da polícia goiana, oito dias depois de ser preso. Desde que o mistério dos garotos desaparecidos em Luziânia foi desvendado, Raimunda não tira da cabeça que Hellen possa ter sido mais uma vítima do maníaco. “Ninguém está dando bola para o caso porque isso ocorreu há muito tempo. Mas se ele já tinha histórico (de abusar de crianças) é possível que tenha feito uma crueldade com minha menina”, desconfia Raimunda.
A dona de casa enumerou motivos para acreditar na versão. Ela lembrou que no dia do sumiço de sua filha, Ademar já residia no Parque Estrela Dalva IV. Da casa dele até a residência de Raimunda são cerca de 900 metros. O pedreiro foi detido cinco meses depois, acusado de violentar dois meninos de 11 e 13 anos, em Águas Claras e Núcleo Bandeirante, respectivamente. Mesmo sendo uma menina — todas as vítimas de Ademar eram homens — Raimunda não descarta que ele possa ter sido o responsável pelo desaparecimento da garota, que, se estiver viva, estará com 16 anos.
A mãe contou que a filha não tinha motivos para fugir da família. No dia em que foi vista pela última vez, ela saiu de casa de bicicleta, por volta das 12h30, para visitar o irmão internado no Hospital Regional de Luziânia. “Eu estava voltando do hospital e ela indo. Como ela estava de bicicleta, foi por outro caminho. Nós acabamos nos desencontrando. Quando deu umas 16h, comecei a ficar preocupada. Perguntei para todo mundo, mas ninguém dava notícias da minha filha”, lembrou.
No dia seguinte, Raimunda procurou a delegacia da cidade para registrar ocorrência, mas como a Polícia Civil do Goiás estava em greve, foi aconselhada a seguir para Brasília. A ocorrência nº 181/2005 foi feita na Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA), porém, até hoje, ninguém conseguiu dar uma resposta à dona de casa e seus outros seis filhos. A última vez em que recebeu uma visita de policiais foi há oito meses. “De tempos em tempos, aparece um policial na minha casa, faz um monte de perguntas e vai embora. Só me deixa mais angustiada.”
Ossada
A notícia de que uma nova ossada foi localizada no último dia 18, na mesma área onde estavam enterrados os esqueletos que podem ser dos adolescentes sumidos, despertou o interesse de Raimunda. Hoje ela pretende ir ao Instituto Médico Legal (IML) cobrar que a identidade do esqueleto seja divulgada com rapidez. No entanto, a diretora da unidade, Sônia Cristina de Brito, afirmou que a análise nessa ossada depende de solicitação da polícia, o que, segundo ela, ainda não teria ocorrido. No fiml da tarde de ontem, o Correio entrou em contato com os delegados José Luiz Martins e Juracy José Pereira, que acompanham o caso, mas eles não atenderam as ligações.
Outro motivo que faz Raimunda desconfiar de que os restos mortais sejam da sua filha é o fato de eles serem antigos. “Eu ouvi falar pelos jornais que essa nova ossada é mais antiga, sem vestígios de pele. Estão falando que pode ser do Eric (dos Santos, 16 anos, desaparecido desde 20 de março), mas os ossos, pelo que eu fiquei sabendo, estavam secos, sem pele nenhuma. Ou seja, aconteceu (a morte) há muito tempo”, suponhe a mãe.
DNA
A Polícia Federal deve divulgar nesta semana o resultado dos exames de DNA nas seis ossadas encontradas enterradas num matagal, dentro da Fazenda Buracão, em Luziânia (GO). As mães dos jovens que desapareceram entre 30 de dezembro de 2009 e 22 de janeiro deste ano aguardam ansiosas pelos laudos. Esses exames podem sanar de vez as dúvidas que ainda perseguem algumas delas. “Enquanto este exame não disser que uma daquelas ossadas é do meu filho, eu ainda vou acreditar que ele pode estar vivo”, afirmou esperançosa a mãe de Diego Alves Rodrigues, o primeiro a sumir.
Sirlene Gomes, mãe de George Rabelo, o terceiro a desaparecer sem deixar rastros, disse consternada que prefere que o resultado do DNA aponte que o filho seja uma das vítimas. “Se ele não estiver entre as vítimas, meu sofrimento vai ser muito. Vai começar aquela angústia de saber onde ele está, se está vivo, ou morto. É triste dizer isso, mas acho que o caso vai se encerrar e vou viver eternamente com a dor, mas, pelo menos, sabendo o que aconteceu com meu filho”, desabafou.
Correio Braziliense
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