quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Brasília: Carros velhos representam perigo maior no trânsito



Detran aponta que veículos fabricados entre 1994 e 1998 se envolveram mais em acidentes fatais em 2007 e 2008
A idade do veículo e, principalmente, a falta de manutenção estão diretamente relacionadas ao risco de seu condutor se envolver em acidentes fatais. É o que indicam os dois últimos levantamentos de acidentes do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran/DF). Quanto mais velho o carro, maior foi sua participação em colisões ou atropelamentos graves. Dos 632 automóveis envolvidos em acidentes com mortes em 2008, 110 (17,4%) foram fabricados entre 1994 e 1998 (veja quadro), segundo o relatório do órgão divulgado no fim do ano passado. O índice que mais se aproxima desse percentual é o de veículos fabricados em 2007, envolvidos em 12% dos desastres - mas a frota de 2007 é uma das mais expressivas(1) do DF, composta até 2009 por 1.138.127 veículos.

O relatório de acidentes de 2007 confirma a propensão dos veículos mais antigos a se envolver em acidentes. Dos 646 registros que terminaram em morte naquele ano, 125 envolveram veículos fabricados entre 1994 e 1998. Para o professor Paulo César Marques da Silva, do Programa de Pós-Graduação em Transportes da Universidade de Brasília (UnB), é temeroso afirmar que o risco de morte em acidentes aumenta somente com a idade do carro. Mas os motoristas precisam se precaver, diz ele.

De acordo com o professor, a relação idade-risco é correta se, além de andar em carro velho, o proprietário não fizer a manutenção do veículo. "Desse modo, o risco está associado muito mais ao estado de conservação do que ao ano de fabricação do carro. O que ocorre muitas vezes é que a pessoa não troca o carro por um mais novo por falta de dinheiro. Se não tem dinheiro para comprar um veículo melhor, também falta para dar a manutenção preventiva", explica.

É o caso do feirante Francisco Mendes da Silva, 64 anos. Morador do Setor O, ele circula pelas ruas de Ceilândia e do Plano Piloto em uma Kombi ano 1974, cujo tanque de combustível é lacrado por uma espiga de milho. "Desde que comprei a Kombi, há quatro anos, não me envolvi em acidentes. Respeito os limites de velocidade", garante o feirante, que costuma transportar milho, areia e cimento no veículo de lataria corroída, sem retrovisor do lado direito e farol do lado esquerdo.

Mecânico de uma oficina de Ceilândia, Manoel Messias, 36 anos, conta que os carros com mais de 10 anos costumam solicitar os serviços de reparo de suspensão. "As estradas do DF são cheias de buraco. As rodas aparecem amassadas e os pneus, deslocados", diz. Profissionais consultados pelo Correio confirmam que os principais problemas surgidos com o passar do tempo estão ligados à suspensão, aos freios e à iluminação, potenciais causas de acidente se desregulados.

Inspeção veicular

Marques lembra que um veículo antigo e bem conservado é tão seguro quanto um veículo novo. "Por isso, existe uma pressão tão grande para que os governos criem a inspeção veicular. É uma forma de manter a frota em bom estado, em termos de segurança e emissão de poluentes", destaca. O professor Antônio Manoel Dias Henriques, do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB, trabalha há 15 anos com inspeções na Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) e não tem dúvidas de que a obrigatoriedade é o caminho para o aumento da segurança nas pistas. "Em países que adotam a inspeção periódica obrigatória, o número de acidentes cai entre 10% e 15%", informa.

No Brasil, a inspeção periódica deveria ser obrigatória de acordo com o Artigo 104 do Código de Trânsito, que prevê a avaliação das condições de segurança, de controle de emissão de gases poluentes e de ruído dos veículos. A norma, porém, precisa ser regulamentada e o projeto de lei que trata do assunto tramita no Congresso Nacional desde 2001. Não há previsão para votação. "Nós e outras entidades autorizadas pelo Inmetro só fazemos a inspeção no caso de veículos que são modificados em suas características originais", explica Henriques. O professor diz ainda que a inspeção feita pelo Detran nos casos de transferência de propriedade não garante mais segurança.

1 - Crescimento

De acordo com os registros do Departamento de Trânsito (Detran), a frota de 2009 possuía 105.999 carros fabricados em 2007. O número se aproxima dos 176.850 veículos fabricados de 1994 a 1998 que circularam ao longo do ano passado.

É preciso ter cuidado

A frota de veículos registrados no DF chegou a mais de um milhão em 2009. A quantidade de carros cresceu 8,7% em relação ao ano anterior - o que corresponde a mais 90 mil veículos. Na última década, a frota só aumentou em ritmo mais acelerado em 2001 (11,3%) e 2007 (9,2%). Atualmente, 65,8% dela (748,9 mil veículos) tem até 10 anos de fabricação.

As inspeções realizadas pela Finatec mostram que, apesar de a frota ser nova, é preciso ter cuidado, pois a situação não é tão boa nas ruas da cidade. "Fazemos, em média, 3 mil inspeções por ano e reprovamos de 30% a 40% dos carros", conta o professor Antônio Manoel Dias Henriques, da UnB.

De acordo com o gerente de Fiscalização do Detran-DF, Silvain Fonseca, apesar de a inspeção veicular ainda não ser obrigatória no Brasil, a exigência das vistorias do departamento no DF é alta. "Exigimos tanto que tem ocorrido evasão de carros velhos para o Entorno", diz Fonseca. Segundo ele, de cada 40 carros abordados em blitzes pelo Detran, um vai parar no depósito. O problema é que os carros banidos do DF voltam a circular por aqui com placas de outras cidades.

Na manhã de ontem, o casal Cristiano dos Anjos, 27 anos, e Larissa Braga, 21, recebeu um alerta para cuidar melhor do carro. Fabricado em 1994 - entre aqueles, portanto, que mais se envolveram em acidentes nos últimos anos - o Fiat Uno teve problemas no sistema de arrefecimento do motor e parou no meio da Via Estrutural. Por sorte, o motorista Nailor dos Santos Júnior, 30 anos, consertava seu caminhão 1991 metros à frente e ajudou o casal. "Vamos direto para uma oficina", garantiu.

(Correio Braziliense)

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