quarta-feira, 20 de março de 2013

Porto Alegre tem taxa de homicídios maior que as de Bogotá, Rio e São Paulo


Índice é mais que o triplo considerado aceitável pela Organização das Nações Unidas

Com aumento de 15,2% no número de homicídios de 2011 para 2012, conformebalanço divulgado no fim de fevereiro pela Secretaria da Segurança Pública, Porto Alegre chega à alarmante taxa de 32,2 assassinatos para cada 100 mil habitantes. 

É mais que o triplo do índice considerado aceitável pela Organização das Nações Unidas (ONU) e o dobro da taxa de homicídios de Bogotá, na Colômbia, considerada uma das capitais mais violentas da América Latina.

Ainda intimidada pelo narcotráfico, a capital colombiana registrou 16,9 homicídios por 100 mil, de acordo com a Polícia Metropolitana e o Instituto de Medicina Legal da Colômbia. 

Como resposta à alta dos assassinatos, o secretário da Segurança, Airton Michels, anunciou o incremento de 2,5 mil novos policiais militares para patrulhar as ruas de Porto Alegre e Região Metropolitana, a partir de abril. 

A repressão qualificada de homicídios é vista como prioridade pela gestão. Desde junho do ano passado, 14 novas delegacias especializadas no combate a esse tipo de crime foram abertas Estado. Ainda neste primeiro semestre, devem ser entregues mais veículos e equipamentos para essas delegacias. 

Mas as mortes não são um fenômeno isolado em termos de violência urbana, na interpretação do sociólogo colombiano naturalizado brasileiro Juan Mario Fandino, do Núcleo de Estudos sobre Violência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Para ele, há uma inter-relação entre narcotráfico, roubo de veículos, assassinatos e crimes de uma maneira geral.

— A violência urbana é um fenômeno cíclico. A polícia e as comunidades ainda estão na tarefa de aprender como reagir a esses surtos de homicídios em grande escala — comenta Fandino.

Aumento do índice exige ação do Estado
O cientista social Michel Misse, do Núcleo de Estudos em Cidadania, Conflito e Violência Urbana da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) também aponta o tráfico de drogas como um dos fatores que interfere no aumento ou redução das taxas de homicídios. 

Outros dois aspectos enumerados pelo pesquisador são o investimento em segurança pública e a capacidade da polícia de esclarecer os assassinatos.

— Normalmente, o investimento na área de segurança está relacionado à gravidade do problema. Com o aumento das taxas, provavelmente você vai ter uma resposta do Estado — pondera Misse.

Essa é uma das hipóteses sugeridas pelo pesquisador para o fato de a capital gaúcha ter mantido o patamar entre 30 e 40 homicídios por 100 mil pessoas entre 2000 e 2010, enquanto Rio e São Paulo reduziram drasticamente o índice no mesmo período. 

A capital fluminense saiu de 53,7 em 2000 para 23,5 em 2010, e São Paulo, que tinha taxa semelhante à porto-alegrense em 2000 (39,3 na capital paulista contra 38,2 na gaúcha), fechou 2010 com 10,4, de acordo com o Mapa da Violência 2013, recentemente consolidado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-americanos. 

Criação de DPs especializados ampliou esclarecimentos de casos
Em junho do ano passado, a Polícia Civil ampliou a estrutura para investigar os assassinatos no Rio Grande do Sul. Delegacias de nove cidades do Estado passaram a contar com equipes dedicadas exclusivamente ao esclarecimento e elucidação dos homicídios. 

Em sete meses, de junho a fevereiro, 75% dos casos investigados foram esclarecidos, segundo o diretor da Divisão de Planejamento da Polícia Civil, delegado Antônio Padilha. No mesmo período, entre junho de 2011 e fevereiro do ano passado, em apenas 19,6% dos casos os criminosos haviam sido identificados. O esclarecimento de um crime se refere à identificação do autor, mas não necessariamente à conclusão do inquérito. 

Padilha afirma que muitos desses processos já estão finalizados e foram encaminhados à Justiça.

— Um dos diferenciais é a ação imediata da equipe, que prioriza casos novos. O período é muito curto, mas a melhora já é significativa — comemora Padilha.
Taís Seibt - ZERO HORA

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