Trechos empoeirados de rodovias federais e estaduais atrasam viagens, encarecem fretes e impedem desenvolvimento
Principais rotas de escoamento da produção no país, rodovias federais têm 617 quilômetros de terra atravessando Minas Gerais. A soma é maior que o trajeto que separa Belo Horizonte e Vitória (ES). Para deixar toda a malha federal que corta o Estado pavimentada, seria necessário R$ 1,1 bilhão. Mas estradas estaduais também têm trechos que nunca viram asfalto. Ao todo, 7.224 dos 26.951 quilômetros de pistas estaduais e federais de Minas são de chão.
O custo para asfaltar cada quilômetro de estrada federal é de, em média, R$ 1,8 milhão. A estimativa é do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Atualmente, os contratos vigentes no Estado para pavimentação das BRs não chegam à metade do necessário. Juntos, os valores integrais dos projetos são de R$ 500 milhões. O restante dos recursos não tem prazo para ser liberado.
Apesar de não terem a mesma importância das BRs em termos de transporte de carga, estradas estaduais também estão em situação precária. Dos 25.417 quilômetros de rodovias, cerca de 25% não são pavimentadas, o que equivale a 6.607 quilômetros de estradas de terra nas chamadas MGs.
O montante para asfaltar as MGs, no entanto, não pode ser calculado, já que o Governo do Estado não informa os valores gastos em cada quilômetro. A justificativa é de que cada rodovia pavimentada tem um custo, dependendo das características da estrada e da região, entre outros fatores. Os valores são definidos a partir do projeto de engenharia.
Entre os piores trechos sem pavimentação no Estado estão importantes rodovias, como a BR-356, entre Muriaé e Ervália (54 quilômetros), na Zona da Mata; BR-367, entre Almenara e Salto da Divisa (102,9 quilômetros), no Vale do Jequitinhonha; e BR-352, entre Patos de Minas e Coromandel (99,3 quilômetros), no Alto Paranaíba.
Para piorar, a temporada de chuvas tem transformado em lama o que era poeira, e em cratera o que era buraco. Na BR-352, caminhões ficam atolados e viagens são interrompidas. Carros, caminhões e ônibus ficam presos na lama, à espera de socorro. De acordo com o Dnit, a manutenção da rodovia foi delegada ao Departamento de Estradas de Rodagem (DER).
Não há projeto de licitação para a contratação das obras. Procurado, o DER limitou-se a informar que realiza rotineiramente serviços emergenciais de recuperação do trecho, com patrulhamento, escoamento das águas das chuvas e colocação de cascalho nos pontos críticos.
Na BR-367, a história se repete. A estrada federal que começa em Diamantina e termina em Santa Cruz Cabrália (BA) atravessa cidades do Norte e Nordeste de Minas, como Araçuaí, Itaobim, Jequitinhonha, Almenara, Jacinto e Salto da Divisa. A rodovia também passa por Porto Seguro, no litoral sul da Bahia.
Em muitos pontos, a estrada é de chão, principalmente nos 102,9 quilômetros entre os municípios de Jacinto e Salto da Divisa. O trecho de 49 quilômetros entre Almenara e Jacinto está inacabado desde 1989. Há quatro pontes de madeira na rodovia. A que passa pelo Rio Rubim, em Almenara, tem mais de 30 metros de extensão.
Moradores das cidades próximas que precisam passar pelo trecho clamam por uma solução. “Esta é um luta inglória, cercada de incertezas, promessas, mentiras, demagogia e tristeza, além de desprezo e irresponsabilidade”, afirma o funcionário público Rodrigo Almeida Campos, morador de Almenara.
De acordo com o DER, foi assinado um convênio entre os governos federal e estadual para a elaboração do projeto de engenharia de pavimentação deste trecho. O órgão estadual preparou edital de licitação sob forma de minuta e encaminhou ao Dnit para aprovação. O mesmo está sendo analisado.
Na BR-356, a situação é ainda pior, já que o jogo de empurra mostra que o problema está longe do fim. O Dnit informa que existe um convênio com o Governo do Estado para a transferência de responsabilidade. No entanto, o DER rebate, dizendo que o trecho encontra-se sob responsabilidade do Dnit, e não existe uma autorização do Congresso Nacional efetivando a transferência.
Perdas da produção chegam a 30% em estradas ruins
Ao priorizar o sistema rodoviário para dar escoamento à maior parte da produção, o Estado perde percentual considerável de tudo o que é transportado. A precariedade das rodovias atrasam entregas e danificam produtos. O prejuízo chega diretamente ao bolso do consumidor, que acaba pagando mais caro pelos alimentos.
Pesquisa feita pelo Departamento de Transporte e Geotecnia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), coordenada pelo professor Diógenes Cortijo Costa, mostra que cerca de 30% da produção agrícola se perde por falta de condições adequadas de transporte.
“Estamos falando, na maioria das vezes, de mercadorias perecíveis, que estragam ou se perdem em locais de difícil acesso e trajetos complicados. Nossa infraestrutura é o maior gargalo”, aponta o professor.
Para o especialista em engenharia de tráfego Frederico Rodrigues, em um país onde o transporte é deficiente, e quase tudo é transportado por rodovias, o desenvolvimento socioeconômico fica prejudicado. Mas ele faz questão de dizer que é possível ter pavimentações de boa qualidade apenas com cascalho, mesmo em estradas de terra.
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