domingo, 28 de novembro de 2010

2010 já é considerado ano com recorde de mortes com motos nas ruas do DF

2010 já é considerado ano com recorde de mortes com motos nas ruas do DF

A cada três dias um motociclista se envolve em acidente com morte no Distrito Federal. Dados preliminares do Departamento de Trânsito (Detran) revelam que 2010 nem terminou mas já é o mais violento dos últimos seis anos, em se tratando de colisões e mortes envolvendo motos. Entre janeiro e outubro,131 acidentes resultaram na morte de 96 motociclistas, o que representa um crescimento de 22% e 19%, respectivamente, se comparado com o mesmo período de 2008, quando ocorreram 109 acidentes fatais com moto e 77 motociclistas perderam a vida.

Nos últimos anos, a análise dos acidentes com motociclistas revela tendência de aumento e nem assim as autoridades conseguem conter o avanço. Os estudos do próprio órgão revelam que a causa para as tragédias é, na verdade, uma combinação de fatores: o crescimento acelerado da frota, a falta de fiscalização, a imprudência e a imperícia do motociclista. Para se ter uma ideia, em uma blitz realizada na noite da última terça-feira, o Detran apreendeu 96 motos. Metade dos condutores (48) não era habilitada e quatro estavam sob o efeito de álcool. O restante circulava sem os documentos de porte obrigatório, como Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV ).

O que dá um certo alívio às autoridades de trânsito é a redução das estatísticas entre outubro e 21 de novembro. Depois de agosto ter alcançado a marca de mês mais violento dos últimos 10 anos, com 21 acidentes fatais com motos e 22 mortos, setembro teve 12 e 13 ocorrências, respectivamente, e outubro fechou com oito acidentes e oito mortos em ocorrências envolvendo motocicletas. Novembro também deve seguir a tendência de queda pois, até o dia 21, foram registrados três acidentes fatais e três mortos.

Fiscalização intensa
Na avaliação do diretor-geral do Detran, Francisco Saraiva, a queda dos números se deve à intensificação da fiscalização. Equipes extras foram formadas com a convocação de agentes que ocupam cargos de confiança e foram incluídos nos grupos que organizam e realizam blitzes nas vias do DF. “Também colocamos equipes de plantão nos pontos considerados críticos e as estatísticas já revelam que nesses lugares não houve acidente fatal. É a prova de que estamos certos quando defendemos a necessidade de mais agentes”, destaca.

Presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais de Brasília (Sindmoto), Reivaldo Alves concorda que muitos condutores são imprudentes e cobra do governo — Detran e Secretaria de Transportes — rigor na punição e mais campanhas educativas. “Se o governo fiscalizasse, não tinha tanta gente matando e morrendo. A partir do momento em que o governo investir em blitzes, vai reduzir os gatos com feridos nos hospitais”, acredita.

Reivaldo aponta outros dois caminhos para conter as mortes provocadas por acidentes com moto: curso de pilotagem e direção defensiva para motociclistas profissionais e mudanças na formação do condutor de motos. “Hoje, a pessoa tira carteira de moto sem dirigir no trânsito. O teste é em um circuito fechado. Apesar da mudança na lei, que determina que as aulas sejam no trânsito, isso não tem ocorrido”, destacou.

De acordo com o sindicalista, no Distrito Federal pelo menos 46 mil pessoas usam a moto para trabalhar e, desses, 18 mil estão cadastrados no sindicato. Atualmente, 840 motociclistas ligados ao Sindmoto estão concluindo um curso de pilotagem e a meta é formar 2 mil. As aulas estão sendo realizadas graças a uma parceria com o governo federal, que destinou R$ 2 milhões para a formação desses profissionais. “Queremos diferenciar o motociclista profissional do usuário comum com o uso do colete, placa vermelha, faixa refletiva no capacete, no baú e com a instalação da antena anti-cerol. Para isso, precisamos que as autoridades nos deem condições para cumprir a lei”, cobrou.

OBRIGATÓRIO
É obtido quando o proprietário do veículo paga e recebe o Licenciamento Anual de Veículos. O documento deve ser renovado anualmente, sendo de porte obrigatório para todos os proprietários de motos, carros e caminhões.

No ano passado, os acidentes com moto deixaram 4.586 pessoas feridas, média diária de quase 12 pessoas. Em 18 anos de profissão, o mototaxista Luiz Carlos Garcia Galvão, 43 anos, escapou da morte duas vezes. O primeiro acidente, em 1997, rendeu uma fratura no fêmur da perna direita, seis meses de recuperação e uma sequela leve: passados 13 anos, ele ainda não consegue dobrar direito a perna.

Há cinco anos, ele se envolveu na segunda colisão, esta mais grave. A batida deixou Luiz Carlos em coma na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por 18 dias e a recuperação completa demorou oito meses.

A gravidade dos acidentes não foram suficientes para afastá-lo do trabalho sob duas rodas. Mas os motivos das colisões lhe renderam lições importantes. Galvão assume total responsabilidade pelo primeiro acidente. Diz que estava distraído conversando com um amigo que dirigia o carro ao lado. “Os veículos da frente pararam no quebra-molas e eu bati em um Gol. Senti muita dor. No segundo, fui vítima da irresponsabilidade de um motorista. Caí e bati a cabeça no meio fio. O capacete rachou e o meu cérebro inchou muito. Em cima daquela maca, fiz minha qualificação profissional. Mudei meu pensamento e minha forma de conduzir a moto”, diz.

Hoje à frente de um sindicato, Luiz Carlos luta para conscientizar os profissionais mais jovens. “Quando eu comecei, não havia ninguém para me mandar para uma sala de aula. Hoje, lutamos para preparar os novatos para a condução segura”, defende.

MAIS SEGURANÇA
Em julho, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) editou a Resolução nº 356, estabelecendo requisitos de segurança para o transporte remunerado de passageiros e de cargas em motocicletas. A norma do Contran regulamenta a Lei nº 12.009, que trata do exercício das atividades de mototáxi e motofrete. Segundo a norma, para exercer a atividade, o profissional deverá registrar o veículo na categoria aluguel no Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Para efetuar o registro, os veículos devem estar dotados de equipamento de proteção para pernas e motor, aparador de linha e dispositivo de fixação permanente ou removível para o passageiro ou para a carga.
CORREIO BRAZILIENSE
   

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