No Lago Sul, a entrada da Ponte JK é cenário de colisões e capotamentos, como o que quase deixou a servidora Tatiana Montezuma paraplégica
O acesso à Ponte JK no sentido Lago Sul — Plano Piloto por meio de uma alça nascida na DF-025, na altura da QL 26 do Lago Sul, tem histórico trágico de colisões. Um balanço preliminar da 10ª DP (Lago Sul) registrou 16 acidentes em seis anos. Dele faz parte o acidente que mudou para sempre a vida da servidora pública Tatiana Montezuma, 47 anos. A diferença entre ela e muitas vítimas é que Tatiana, ao sobreviver, provou na Justiça que o capotamento de seu carro foi provocado única e exclusivamente por falhas técnicas na pista.
Era setembro de 2004 quando Tatiana Montezuma acordou sem entender por que estava em um quarto de hospital. Ela soube por meio dos parentes que sofrera um acidente grave havia alguns dias. Na manhã de 9 de setembro, a servidora dirigia rumo ao trabalho quando teve o trajeto interrompido na alça da pista que liga a QL 26 do Lago Sul à Ponte JK. Ela não se lembrava das causas porque o desastre prejudicou temporariamente a retenção de memória recente. O fato é que, no início da curva, Tatiana bateu no meio-fio, capotou e caiu de uma altura de 15 metros na ribanceira que contorna o lado direito de toda a extensão da pista. Ela descobriu que o trecho em questão tinha fama de defeituoso por meio dos amigos e familiares que a visitavam na recuperação. No momento, não chovia e o carro estava com as revisões em dia. “Fiquei com raiva, indignada. Eu estava daquele jeito por causa de uma pista malfeita? Eu tinha que ir atrás”, conta.
Na queda, ela fraturou os dois braços, teve traumatismo craniano e partes do couro cabeludo cortadas pelo vidro estilhaçado. O mais grave, porém, foi a lesão na vértebra C2 da coluna cervical, na região do pescoço, que por pouco não a deixou paraplégica. Para impedir o aprofundamento da lesão, o tratamento foi o que Tatiana chamou de “tortura oficial”. “Fiquei nove dias deitada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com um peso me puxando no sentido contrário para tracionar a coluna. Foi a pior dor que senti na vida.” Depois da alta, Tatiana teve ainda de usar um aparelho de ferro preso na cabeça e nos ombros, que impediu qualquer movimento do pescoço por três meses.
Quando melhorou, foi à luta. Em 2006, ajuizou uma ação contra o Governo do Distrito Federal atribuindo ao Estado as causas do acidente. Para provar seu ponto, teve a ajuda dos peritos José Alex Sant’Anna e Rodrigo Otávio Moreira da Cruz, que elaboraram um laudo técnico listando os problemas de engenharia da pista. Além de levantar a existência de vários outros acidentes, os especialistas concluíram: “(os problemas) Ocorrem devido a uma pequena lombada na entrada da alça, seguida de uma curva e sem superelevação”. Isso, segundo a dupla, desestabiliza o veículo. O GDF chegou a alegar, no processo, que “as normas de trânsito não foram exigidas no local”.
A análise dos peritos judiciais do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) chegou à mesma conclusão. O juiz João Henrique Zullo Castro entendeu que houve “responsabilidade objetiva do Estado” e identificou as ligações “que configuram o ato ilícito perpetrado pela administração, uma vez que a atuação estatal foi, de fato, a geradora do dano sofrido pela autora”. O GDF foi condenado a pagar indenização de R$ 50 mil a Tatiana, mas recorreu da sentença. “A administração pode reconhecer o erro de construção e determinar a correção da via. Mas não. Eles preferem recorrer judicialmente, ganhar tempo e prejudicar o cidadão”, lamenta a advogada de Tatiana, Juliana Porcaro. “O que o GDF está esperando para consertar? Mais acidentes? Vidas perdidas?”, questiona Tatiana.
Era setembro de 2004 quando Tatiana Montezuma acordou sem entender por que estava em um quarto de hospital. Ela soube por meio dos parentes que sofrera um acidente grave havia alguns dias. Na manhã de 9 de setembro, a servidora dirigia rumo ao trabalho quando teve o trajeto interrompido na alça da pista que liga a QL 26 do Lago Sul à Ponte JK. Ela não se lembrava das causas porque o desastre prejudicou temporariamente a retenção de memória recente. O fato é que, no início da curva, Tatiana bateu no meio-fio, capotou e caiu de uma altura de 15 metros na ribanceira que contorna o lado direito de toda a extensão da pista. Ela descobriu que o trecho em questão tinha fama de defeituoso por meio dos amigos e familiares que a visitavam na recuperação. No momento, não chovia e o carro estava com as revisões em dia. “Fiquei com raiva, indignada. Eu estava daquele jeito por causa de uma pista malfeita? Eu tinha que ir atrás”, conta.
Na queda, ela fraturou os dois braços, teve traumatismo craniano e partes do couro cabeludo cortadas pelo vidro estilhaçado. O mais grave, porém, foi a lesão na vértebra C2 da coluna cervical, na região do pescoço, que por pouco não a deixou paraplégica. Para impedir o aprofundamento da lesão, o tratamento foi o que Tatiana chamou de “tortura oficial”. “Fiquei nove dias deitada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), com um peso me puxando no sentido contrário para tracionar a coluna. Foi a pior dor que senti na vida.” Depois da alta, Tatiana teve ainda de usar um aparelho de ferro preso na cabeça e nos ombros, que impediu qualquer movimento do pescoço por três meses.
Quando melhorou, foi à luta. Em 2006, ajuizou uma ação contra o Governo do Distrito Federal atribuindo ao Estado as causas do acidente. Para provar seu ponto, teve a ajuda dos peritos José Alex Sant’Anna e Rodrigo Otávio Moreira da Cruz, que elaboraram um laudo técnico listando os problemas de engenharia da pista. Além de levantar a existência de vários outros acidentes, os especialistas concluíram: “(os problemas) Ocorrem devido a uma pequena lombada na entrada da alça, seguida de uma curva e sem superelevação”. Isso, segundo a dupla, desestabiliza o veículo. O GDF chegou a alegar, no processo, que “as normas de trânsito não foram exigidas no local”.
A análise dos peritos judiciais do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) chegou à mesma conclusão. O juiz João Henrique Zullo Castro entendeu que houve “responsabilidade objetiva do Estado” e identificou as ligações “que configuram o ato ilícito perpetrado pela administração, uma vez que a atuação estatal foi, de fato, a geradora do dano sofrido pela autora”. O GDF foi condenado a pagar indenização de R$ 50 mil a Tatiana, mas recorreu da sentença. “A administração pode reconhecer o erro de construção e determinar a correção da via. Mas não. Eles preferem recorrer judicialmente, ganhar tempo e prejudicar o cidadão”, lamenta a advogada de Tatiana, Juliana Porcaro. “O que o GDF está esperando para consertar? Mais acidentes? Vidas perdidas?”, questiona Tatiana.
MEMÓRIA
Histórico de tragédias
Só em novembro, a curva do viaduto da JK foi cenário de três acidentes semelhantes ao de Tatiana Montezuma. No dia 3, pelo menos 10 carros rodaram na curva da pista sentido L4 — Lago Sul. Desses, sete precisaram de socorro mecânico. Mais três motoristas perderam o controle, mas seguiram viagem. A chuva e os acidentes provocaram a interdição da via por pelo menos uma hora. O trânsito foi liberado depois que parou de chover. Os próprios bombeiros e policiais militares responsáveis por atender as ocorrências reconheceram que acidentes são comuns no local. Dois dias depois, um motociclista ficou ferido após bater no mesmo lugar. O condutor da moto, Welison César de Assis, 22 anos, caiu ao colidir sua Yamaha com a traseira de um Fiat Strada e teve fraturas nas pernas. No dia 13, um caminhão da Ciplan tombou no local. O caminhão tinha duas carretas de cimento e o engate da parte de trás quebrou. “Senti que o caminhão ficou bambo assim que fiz a curva na entrada do trevo da ponte”, contou o motorista Ricardo Gomes, 36 anos. Poucos metros depois, a parte traseira da carreta caiu. Agentes do Detran afirmaram que o motorista não estava alcoolizado nem em alta velocidade. (AS)
Histórico de tragédias
Só em novembro, a curva do viaduto da JK foi cenário de três acidentes semelhantes ao de Tatiana Montezuma. No dia 3, pelo menos 10 carros rodaram na curva da pista sentido L4 — Lago Sul. Desses, sete precisaram de socorro mecânico. Mais três motoristas perderam o controle, mas seguiram viagem. A chuva e os acidentes provocaram a interdição da via por pelo menos uma hora. O trânsito foi liberado depois que parou de chover. Os próprios bombeiros e policiais militares responsáveis por atender as ocorrências reconheceram que acidentes são comuns no local. Dois dias depois, um motociclista ficou ferido após bater no mesmo lugar. O condutor da moto, Welison César de Assis, 22 anos, caiu ao colidir sua Yamaha com a traseira de um Fiat Strada e teve fraturas nas pernas. No dia 13, um caminhão da Ciplan tombou no local. O caminhão tinha duas carretas de cimento e o engate da parte de trás quebrou. “Senti que o caminhão ficou bambo assim que fiz a curva na entrada do trevo da ponte”, contou o motorista Ricardo Gomes, 36 anos. Poucos metros depois, a parte traseira da carreta caiu. Agentes do Detran afirmaram que o motorista não estava alcoolizado nem em alta velocidade. (AS)
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