Estudo mostra que metade das mortes de menores de 15 anos se deve a acidentes e atropelamentos. Sufocamento e afogamento vêm logo depois.
Levantamento divulgado ontem mostra que acidentes de trânsito são a principal causa de morte não intencional de crianças e adolescentes. Segundo estudo da organização não governamental Criança Segura, metade dos óbitos no Paraná está relacionada ao trânsito e se divide entre acidentes e atropelamentos. Isso representa uma morte de pessoas abaixo dos 15 anos a cada dois dias no estado. No Brasil o panorama é o mesmo, onde em 2007, dados mais recentes, houve 5.324 vítimas infantis, sendo 40% associadas a colisão ou atropelamento.
No Paraná, além desta causa principal, o sufocamento e o afogamento aparecem respectivamente em segundo e terceiro lugares. O estado está em sétimo no ranking de mortes acidentais de meninos e meninas. A taxa de mortalidade paranaense é de 14,2 a cada 100 mil, acima da média nacional, que é de 10,6. Para a pesquisa foram usados números oficiais do Ministério da Saúde, disponíveis no Datasus, com dados de 2007.
Quando se faz um recorte regional, em todas as regiões o trânsito é o principal vilão. A exceção é a Região Norte, que tem como causa primeira os afogamentos. A explicação seria a quantidade de rios em alguns estados, já que a maior parte dos acidentes ocorre em águas abertas, como mares e rios. Quando o óbito está associado ao trânsito, em 44% dos casos as crianças são vítimas de atropelamento e em 28% são passageiras dos veículos.
Para a coordenadora de mobilização da Criança Segura, Jaqueline Magalhães, é importante saber onde estão os pontos de vulnerabilidade de cada estado para realizar ações de prevenção mais efetivas. “Para prevenir, é importante se basear em fatos e dados reais”, diz. Ela afirma que com ações simples os pais podem reduzir os riscos. Um ato importante é sempre usar a cadeirinha para transportar os filhos. “Com este equipamento, a chance de óbito pode ser reduzida em até 71%.” Outro ponto em relação aos acidentes é que os atropelamentos dos meninos e meninas ocorrem quase sempre próximo à residência ou à escola. “É preciso uma mudança de comportamento dos pais”, argumenta.
Cuidados
O médico Rached Traya, chefe do pronto-socorro do Hospital do Trabalhador, presencia quase cotidianamente os acidentes envolvendo crianças. “Infelizmente estamos apenas iniciando o processo de conscientização dos pais em relação à cadeirinha. Ainda demorará um tempo até que o próprio poder pública consiga realmente fiscalizar.” Ele afirma que os pais devem sempre ficar atentos aos filhos. “A fatalidade do acidente ocorre no momento em que os pais baixam a guarda.”
A pediatra Patrícia Tempski lembra que alguns cuidados básicos podem evitar problemas. Bebês com menos de 1 ano devem dormir de barriga para cima, o que ajuda a evitar a síndrome da morte súbita. Os pais também devem evitar brincadeiras com bexigas vazias, grandes vilãs em casos de sufocamento. É importante também atentar para a faixa etária indicada nos brinquedos, que não devem conter peças pequenas.
Luto
A história de Antônio Maciel mostra como a violência no trânsito vem dizimando vidas de crianças e adolescentes e destruindo famílias inteiras. Há 50 dias o filho dele, Eduardo, de apenas 10 anos, faleceu em um acidente de trânsito. O garoto estava no banco de trás ao lado da irmã de 5 anos e a família voltava de uma visita aos avós das crianças, que moram em São Mateus do Sul. Próximo a um trevo na cidade de Antônio Olinto, um carro com cinco jovens alcoolizados e sem permissão para dirigir entrou na contramão, possivelmente devido a um “racha”, e atingiu o veículo da família Maciel. Eduardo morreu na hora. Todos estavam com cinto de segurança e a filha mais nova na cadeirinha. Mesmo assim, a imprudência do grupo de jovens vitimou Eduardo.
Hoje a família tenta se reestruturar e participa de um grupo de apoio a outras vítimas do trânsito. “Eles destruíram a minha vida. Tinha um filho saudável, que estava começando a vida, e ele foi arrancado de nós. Sempre acho que com o passar dos dias a situação vai melhorar, mas fica cada vez pior”, diz Maciel.
GAZETA DO POVO
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