domingo, 13 de junho de 2010

Curitiba: Em 5 meses, 346 acidentes


Curitiba registra, em média, mais de duas ocorrências por dia no transporte coletivo. A maior parte delas deixa vítimas
A tragédia provocada pelo ligeirinho da linha Colombo/CIC, que matou dois homens e deixou 32 pessoas feridas, na última quinta-feira, no Centro de Curitiba, acendeu um sinal de alerta sobre o transporte coletivo. De janeiro a maio, foram registrados 346 acidentes envolvendo ônibus ou micro-ônibus na capital, mais de duas ocorrências por dia (2,29, em média) – um aumento de quase 15% em relação ao mesmo período do ano passado. Em boa parte dos acidentes – 226 do total –, houve vítimas.
O excesso de velocidade dos ônibus e a imprudência de motoristas, pressionados pelo controle de horário, são normalmente citados por usuários como a principal causa dos acidentes. Mas no caso da tragédia de quinta-feira, o depoimento do condutor e o relato de testemunhas apontam para pane mecânica como a provável causa. Se foi problema técnico ou falha humana, só a perícia poderá concluir, o que deve ocorrer em um prazo de 30 dias.
Segundo a prefeitura, o ligeirinho envolvido no acidente de quinta-feira passou por uma vistoria no dia 22 de março. Assim como toda a frota do transporte coletivo de Curitiba, o carro foi fiscalizado e inspecionado de forma visual pelos técnicos da Urbanização de Curitiba (Urbs). O órgão não tem um equipamento chamado linha de inspeção, que faz testes automatizados em freios, suspensão e alinhamento do veículo. O equipamento daria, de acordo com o engenheiro mecânico da empresa MG Inspeção, Daniel Guimarães Ariede, mais confiabilidade nas avaliações mecânicas semestrais feitas no transporte público.
A linha de inspeção, incluindo o frenômetro (aparelho que testa os freios), custaria em torno de R$ 100 mil. “Por eles (técnicos da Urbs) fazerem uma inspeção visual, deixam a desejar”, diz o engenheiro. Sem o equipamento, afirma Ariede, a prefeitura não tem condições de fazer avaliações precisas sobre a condição do veículo.
Como os coletivos rodam muitos quilômetros por dia (veja quadro ao lado), o desgaste das peças e componentes do veículo é alto. “Isso pode ocasionar acidentes”, conta. Uma das soluções apontadas pelo engenheiro mecânico seria a Urbs diminuir o intervalo entre as vistorias, realizadas a cada seis meses. “Se fosse feita em menos tempo, diminuiria o risco também”, afirma.
Segundo o engenheiro mecânico da empresa de inspeções Transtech, Paulo Cezar Gottlieb, a periodicidade dos testes é razoável. “Pelo que tenho visto, Curitiba tem uma situação privilegiada. Os ônibus têm boa conservação”, opina.
Outro lado
A Urbs, por meio da assessoria de imprensa, informou que não tem o equipamento e que pretende adquiri-lo no futuro. Segundo a assessoria, apesar de não possuir o aparelho, o rigor e a eficiência da vistoria são excelentes.
O diretor executivo do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), Ayrton Amaral Filho, confirma que a Urbs não tem a linha de inspeção. Entretanto, ele afirma que o órgão tem as melhores condições do Brasil e da América Latina para realizar as inspeções.
“Os ônibus são inspecionados pelas próprias empresas e a Urbs é muito profissional”, defende. Segundo ele, as empresas não permitem que os ônibus saiam para a rua se houver qualquer suspeita de problema mecânico. “Eles colocam até um papel branco embaixo dos veículos. Se ocorrer apenas um pingo de óleo, o carro não sai. Há países em que a inspeção é feita uma vez por ano.”
Passageiros
Segundo o professor de Transportes da Universidade Fe­­deral do Paraná (UFPR) Eduardo Ratton, as empresas de ônibus e a própria prefeitura de Curitiba devem assumir um papel mais ativo com relação à responsabilidade dos acidentes. “A prefeitura tem que dar atenção a isso. Ela é responsável pela segurança dos passageiros”, afirma.
No acidente ocorrido na quinta-feira, ficou visível a fragilidade dos bancos nos ônibus, que ficaram totalmente danificados com o impacto. Segundo Ratton, a Urbs precisa reavaliar a segurança do passageiro. “Muitos ficam em pé. Há um risco muito grande.”
Gazeta do Povo

Nenhum comentário: